Você já deve ter ouvido que um bom tempo na cozinha serve para desopilar, refletir, pensar… Sim, a culinária pode ir muito além do preparo de pratos especiais ou dos preferidos da família e se tornar um importante recurso terapêutico para a área motora do corpo. A prevenção ou o tratamento de lesões nas mãos, braços e ombros pode, sim, utilizar esse tipo de atividade rotineira.
Para a terapeuta ocupacional Syomara Smidziuk, é importante fazer uso de momentos da vida diária prazerosos para o paciente, e, muitas vezes, a gastronomia é um deles. "Trabalhamos não o resultado final da atividade, mas os movimentos necessários para sua realização”, explica a profissional, que tem 31 anos de experiência na área.
Veja aqui alguns exemplos de como o ato de cozinhar pode ser incorporado aos recursos do terapeuta – mas é importante que você seja acompanhado por um profissional, ok?
Colocar a mão na massa, literalmente, é um recurso ideal para ativar as sensações. “Existe um conceito na terapia ocupacional fundamental: o que eu não mexo eu não sinto; e vice-versa”, explica Syomara. “Se eu não tenho sensibilidade apurada, é provável que terei alguma alteração motora, porque o sensorial está sempre muito influente no motor.” Por isso, sovar o pão para que a massa cresça traz a oportunidade de aguçar todos esses receptores nervosos das mãos e dos braços.
Nada como trabalhar num prato que sairá uma delícia do forno! Mas aqui é importante deixar um recado sobre prevenção. Em primeiro lugar, o ideal é ter colheres de cabo longo na cozinha, e mexer alimentos com a mão inteira, não somente com os dedos. Bater bolo pode parecer simples, mas o erro é segurar a tigela só com os dedos. “O ideal é apoiar o recipiente da melhor forma possível, o que irá poupar as articulações”, explica a terapeuta.
E uma sopa com bastante vitamina, que tal? São alguns minutos de investimento no corte de verduras e legumes, mas vale a pena. Para que essa atividade repetitiva não acarrete problemas para as articulações ao longo dos anos, é importante usar facas apropriadas e executar o movimento de guilhotina com o punho firme. “Essa é uma tarefa que, para alguns, pode ser tediosa, mas, para outros, representa um momento de descanso mental e muita produtividade. Por isso, é importante conhecer os interesses do paciente e sua relação com cada atividade do dia a dia”, destaca Syomara.
Asim como a culinária, muitas outras ações rotineiras podem se tornar recursos na terapia ocupacional. “Seja na prevenção ou no tratamento de lesões, é fundamental fazer uso daquelas que mais atraem a pessoa”, salienta a profissional.
* Syomara Cristina Szmidziuk atua há 30 anos como terapeuta ocupacional, e tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio para bebês, terapia infantil e juvenil, para adultos e terceira idade. Desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão, e possui treinamento em contenção induzida, Perfetti (introdutório), Imagética Motora (básico), Bobath e Baby Course (Bobath avançado), entre outros.