TEATRO: MUITO ALÉM DA PROFISSÃO DE ATOR

Você já pensou em fazer um curso de teatro? Sabe o que essa prática pode acrescentar à sua vida, independente de sua idade e da profissão que tem hoje? Desde os primórdios, o teatro apresentou-se como um espaço de criação artística e construção de identidades culturais, como fonte para o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários. 

Da Grécia antiga aos tempos atuais, a arte teatral tem sido utilizada como um método eficiente e eficaz de ensino-aprendizagem, como agregador e produtor de conhecimentos, como produtor e disseminador cultural, um excelente instrumento de diálogo com a comunidade. A afirmação é da professora  e diretora teatral Ângela Gonzaga, que atua na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS). É a partir da visão dela que homenageamos hoje essa arte tão fantástica. No Dia Mundial do Teatro*, comemorado neste 27 de março, vamos falar sobre a magia de representar e os benefícios que promove, muito além da profissão de ator. "É isso que buscamos, já que as atividades dramáticas conduzem os participantes a investigar a sociedade no qual se inserem, seus tipos e arquétipos, adquirindo valores éticos e de cidadania, caminhando para um novo entendimento sobre si e o outro", complementa a professora.  

A simulação de situações reais ou simbólicas, continua Ângela, traz à luz a consciência de atitudes e suas repercussões, criando uma nova consciência social. Em termos pessoais, há um empoderamento pessoal, ganho em autoestima, melhoria da capacidade de expressão e ajustamento social. Ângela explica que, apesar de a Universidade Feevale não possuir curso específico na área de teatro, há 20 anos oferece oficinas gratuitas à comunidade visando suprir a lacuna por meio do projeto Movimento Teatral. "As oficinas não têm como objetivo a formação atores, mas o de propiciar um espaço de experimentação aos partícipes, reforçando aspectos pessoais e sociais, instrumentalizando os integrantes para situações que exijam exposição pessoal, atuando como instrumento facilitador para o  contato social, dessa forma fortalecendo e valorizando laços de convívio", diz Ângela, que é bacharel em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

As oficinas na Feevale abrangem pessoas de todas as faixas etárias a partir dos 14 anos de idade, inclusive há trabalhos para crianças em situação de vulnerabilidade social. O projeto está vinculado à Pro-reitoria de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão (Proppex), em parceria com o Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes (ICHLA), por meio do curso de Artes Visuais. Mesmo não tendo a proposta de montagens teatrais, anualmente há uma mostra dos resultados obtidos pelo projeto Movimento Teatral da Feevale durante o ano. Geralmente, são esquetes teatrais gerados a partir de improvisações. Essas apresentações ocorrem no Câmpus II, são abertas à comunidade e gratuitas, bem como a oficina - também gratuita.

O TEATRO ENSINA A VIVER

Ângela diz que o teatro ensina a viver e reafirma a ideia de que as técnicas propostas conduzem à melhoria da autoestima, da exposição pessoal,  comunicação e expressão,  levam à compreensão da importância do desempenho em grupo, já que,  para um resultado satisfatório, todos devem estar ajustados. "Todos buscam o desenvolvimento da participação e iniciativa; o desenvolvimento de um pensamento reflexivo e crítico, avivam a memória, a sensibilidade, afetividade, etc. Poderia citar muitos objetivos, porém o que me parece deva ser ressaltado é o ganho de humanidade, o entendimento sobre a condição humana e a extensão de comportamentos, atos e repercussões", reflete.

No campo da educação, continua a professora, os princípios pedagógicos dessa prática traçam relações claras com o aprendizado já que se trata de uma forma humana de expressão. O teatro, frisa Ângela, integra, socializa ideias e, acima de tudo, promove a aprendizagem de forma lúdica. "Jogos dramáticos e improvisações são essenciais na escola hoje. Tiram os alunos do mundo virtual e os impulsionam a vivenciar, experienciar  situações reais. Nas aulas, os alunos são estimulados a interpretar diversos personagens e nesse processo acabam descobrindo mais sobre características pessoais. Ao vivenciar os personagens, identificam qualidades, aproximam-se com seus conceitos e atitudes e passam a entender mais sobre si mesmos, detendo mais autoconhecimento e  elevando a sua autoestima. E quanto mais cedo o indivíduo construir uma imagem positiva de si mesmo, mais confiante será quando adulto", diz.

Por isso, a Escola de Educação Básica Feevale - Escola de Aplicação, se vale desse método constantemente, em todas as etapas. De acordo com a professora Tais de Oliveira, durante as aulas o teatro é trabalhado de muitas formas. Os alunos são levados a realizar jogos cênicos, exercícios de interpretação, caracterização e composição de personagens, jogos de improvisação, tendo como base objetivos que ampliem a expressividade do indivíduo e conseguir realizar trabalhos em grupo, respeitando o outro dentro de suas habilidades e individualidades. 

*O Dia Mundial do Teatro foi criado em 1961 pelo Instituto Internacional do Teatro (ITI), data da inauguração do Teatro das Nações, em Paris.