SERÁ QUE O RELACIONAMENTO DEVERIA SER UM ETERNO FLERTE, ADORO VER-TE?

Estamos nos tornando cada vez menos emocionais, humanos e reais. Por conta de experiências enfatizam-se o utilitarismo sem fronteiras ao invés do romance amoroso com profundidade!

Por César Silva*

Porque não? Aquela sensação de novidade diária com um toque de carinho, uma pitada de sensualidade e uma porção de mistério, recheado de paixão incondicional são elementos abundantes ou faltantes?

A canção de Caetano Veloso, lançada por Baby Consuelo em 1980, já dizia: eterno flerte, adoro ver-te! Menino do Rio! Bem típica de uma época de abertura de mentes, apesar da ditadura militar. Após a década de 70, do movimento hippie, Woodstock e a liberdade sexual, nada mais pontual.

O conceito se expandiu ao momento atual com a farta experimentação, de ambos os sexos, de tudo o que é possível em termos de sexo, experiências e gostos.

Não sou do tipo preconceituoso, mas acredito em laços fortes entre pessoas que se amam!

Um amigo me contou espantado a seguinte história: uma dia encontrei uma girl em um bar e terminamos a madrugada na casa dela. Já tínhamos amigos em comum. Tivemos uma noite daquelas, com tudo o que tínhamos direito em termos de sexo, tesão e sensualidade. Que loucura! Que noite!

Fui tomar banho e retornei a cama. Olhei no relógio: eram 4 horas da manhã. Nem coloquei as cuecas e fui deitando na cama, me cobrindo, quando ela perguntou: o que está fazendo? Ué! Estou me arrumando para dormir! E quem lhe convidou para dormir? Pode ir para sua casa que eu tenho que trabalhar amanhã!

Cara, me senti usado!!! Com uma expressão de espanto e magoado, ele reforçou e defendeu sua posição. Adoro escutar, mas não me aguentei! Lasquei a pergunta: e quantas vezes você fez a mesma coisa?

Ele não quis responder e com a voz embargada e um sorriso maroto, trocou de assunto. Aí é que está! Trocou de assunto porquê? Doeu? E não doeu nelas também? Mas, por que doeu se foi somente uma noite ardente? Queria algo mais ou se sentiu desrespeitado? Sentimento nessa hora? Como não ter, somos humanos!

Robôs desumanos e humanos emocionados

Conforme a Phd Martha Gabriel, especialista em transformação digital, "não existem mais espaço para humanos robóticos", referindo-se ao mercado de trabalho e a repetição de tarefas rotineiras sendo substituídas por robôs mais eficientes.

Será que um flerte com um robô competente sexualmente é melhor do que um relacionamento aprofundado com um ser humano complexo?

Várias pesquisas ao redor do mundo dão conta de um futuro solitário, inclusive reforçado pela Phd. Não é de se espantar que realidades levadas em consideração na ficção, como a realidade virtual substituindo companheiros e companheiras, até instrumentos e robôs eficientes, possam estar mais presentes nas sociedades em breves tempos.

É fato que a experimentação é do momento e da humanidade mais atual e antiga. Não são de hoje experiências como a citada na história acima. Não há nada errado em tudo isso! Acredito que a única coisa desumana é o individualismo exacerbado, o hedonismo reticente e a despersonalização em massa. Isso mesmo, em massa!

Os humanos, nós, estamos nos tornando cada vez menos emocionais, humanos e reais. Por conta de experiências sofridas ou "contadas", enfatizam-se o utilitarismo sem fronteiras ao invés do romance amoroso com profundidade! Quando cito isso em conversas com amigos, sempre escuto a seguinte afirmação: isso já foi! Será?

Observo e conheço muitos homens e mulheres com uma sensação de vazio existencial imensa. Relatam que se sentem sem vontade real para qualquer atividade e que a vida poderia ser mais colorida. Paralelamente a depressão nunca esteve em níveis tão altos!

Não quero dizer que para evitar a depressão devemos entrar em relacionamentos. Não! Estou afirmando que as emoções fazem parte da nossa vida, assim como a racionalidade, misturados e com proporções idênticas.

Aprofundar o relacionamento, seja de amizade, carinho, amor ou atenção é fundamental para nossa saúde física e mental. Nâo fomos criados para viver sozinhos e sim em sociedade. Conhecer-se faz parte deste arcabouço! E quem se conhece e se ama procura alguém para amar. Em qualquer nível!

 A confiança é fator fundamental nos relacionamentos sociais! A questão é que alguns fazem mais esforço do que outros! Alguns preferem os pet´s! Que não deixa de ser um relacionamento! Só que eles não respondem em palavras!

Lição que não demora

Um casamento não deixa de ser uma lição, boa ou ruim. O não casar também tem suas lições! A questão aqui é: quem se arrisca a aprofundar mais do que uma conversa amigável, uma relação que envolva cumplicidade, carinho e amor?

Parto do seguinte pressuposto: se assumiu a responsabilidade com alguém, cumpra-a! Faça de tudo para encantar diariamente! Encha cada canto do tempo com surpresas amorosas, carinhosas e afetuosas como no primeiro dia.  Torne a paixão um apaixonar-se diário! Torne o afeto uma expressão corriqueira, uma rotina exitosa! E colha todos os dias o melhor da vida!

Que o flerte seja mais do que um simples ver-te! Que seja Ser-te! E todos os dias: renovado, reforçado e redefinido para melhor!

César Silva é professor, escritor, consultor, mentor - Head of Business @cesarsilvasimplesmente, Professor/Tutor Externo IERGS/Uniasselvi, Conselheiro da Fenac S.A