SALA DA TEACHER DAIA: Penso que não consigo, logo, não aprendo

Por Daiana Souza*

Sou professora de inglês e amo o que faço. Aliás, desde que me descobri como uma, não consigo mais me imaginar fazendo outra coisa. Mas ao longo de minha trajetória me deparei com um discurso muito comum entre meus alunos: “não consigo aprender inglês, professora”. As razões para o aparente fracasso são inúmeras, desde a passagem por escolas de ensino duvidoso à dificuldade de memorizar regras, de se comunicar, e por aí vai. Eu nunca consegui me convencer e sempre tentei (tento até hoje, por sinal) derrubar estas barreiras colocadas por eles mesmos.

Mas afinal, por que não conseguimos aprender inglês? Ou melhor, por que não conseguimos aprender qualquer coisa? Alguns podem me achar pessimista, ainda mais em tempos tão difíceis como o nosso. O uso de máscaras esconde nosso sorriso, o álcool seca nossa pele e as aulas online nos cansam cada vez mais. Parece que não há motivos para acreditar. No entanto, além de professora eu sou brasileira. E como dizem por aí, brasileiro não desiste nunca.

Minha formação é bem curiosa: sou publicitária e atualmente estudo pedagogia. Consegui juntar dois assuntos que amo - comunicação e educação - no meu dia a dia de trabalho. E nas minhas pesquisas pedagógicas encontrei evidências que poderiam me ajudar a convencer meus alunos de que sim, eles poderiam aprender o que quisessem. No meu caso, seria esta a minha chance de acabar com esse “ranço” do aprendizado de inglês. Descobri que a aprendizagem, para funcionar, precisa andar de mãos dadas com a afetividade, o carinho e o amor. A partir desta descoberta, não parei de pensar nas vezes em que, ao longo da vida, alguém me disse que eu não entendia nada, ou que eu era louca, ou que eu não sabia fazer nada. Discurso típico de relacionamentos tóxicos, muitas pessoas cresceram ouvindo essas atrocidades de seus pais, irmãos e - quem diria - professores. O pior de tudo é que ouvimos isso até hoje.

Alguns teóricos da área da educação relacionam a aquisição de conhecimento com o afeto. Vygotski diz que não há separação entre intelecto e afeto, pois ambos estão interligados. De Paula e Faria afirmam que, apesar de terem naturezas diferentes, a afetividade e a cognição são inseparáveis. Diante dessas ideias, como podemos pensar que alguém vai aprender alguma coisa sem acreditar em si mesmo, sem confiar em suas habilidades, achando que não consegue? É praticamente uma afronta a conexão existente entre nosso cérebro e o afeto que habita dentro de todos nós. Na nossa cultura emoções e sentimentos ainda são vistas como algo negativo, pois estamos sempre nos desculpando por apenas se emocionar.

Quando nos sentimos queridos, amados e valorizados por ser quem somos, conseguimos viver de forma mais centrada e equilibrada e nos posicionamos com maior facilidade diante de qualquer dificuldade que possa surgir. Este é o cenário perfeito para a aprendizagem acontecer de maneira bem sucedida, pois dessa forma aliamos a autoestima elevada ao que queremos estudar. Se eu sinto que não sou importante e que ninguém gosta de mim, terei muita dificuldade para aprender qualquer coisa. Se me sinto amado e querido, posso aprender o que eu quiser. Inclusive o que eu acho que não consigo. Portanto, é hora de abandonar os discursos de relacionamentos tóxicos e acreditar em seu valor, sua importância, para o bem de seu cérebro. Você pode aprender o que quiser: basta amar a si mesmo.

*Publicitária e professora de inglês. A partir desta semana, Daiana Souza escreverá quinzenalmente neste espaço. Tem alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito do tema? Utilize os espaços abaixo para comentários.