SALA DA TEACHER DAIA: Os entraves da inclusão

"Ter me deparado com alunos portadores de deficiência fez com que as diferenças entre eles me fizessem repensar tudo que eu conheço até hoje sobre educação"

Por Daiana Souza*

Eu sou muito enxerida. Às vezes tenho alguns problemas com isso. Já passei por diversos conflitos e confesso, nem sempre é fácil lidar com essa minha característica, difícil de mudar. Essa condição pode até assumir formas diferentes, ora rígida ou flexível, mas imutável. E como professora/educadora/curiosa/inquieta, consigo fazer grandes descobertas usando tal condição como instrumento de trabalho. Penso que os profissionais da área da educação que escolhem não se meter em nada e ficar apenas “na sua”, não conseguem contribuir tanto quanto poderiam no crescimento de seus alunos.

Aliás, falando neles, nenhum aluno é igual ao outro. Mas ter me deparado com alunos portadores de deficiência fez com que as diferenças entre eles me fizessem repensar tudo que eu conheço até hoje sobre educação. Nem dormi direito, com tantas ideias, pensamentos e reflexões na minha cabeça que simplesmente não sossegavam. É muito fácil falar de inclusão quando você está fora de uma sala de aula. E hoje, além de várias atividades, também sou professora de apoio à inclusão. Estou todos os dias ao lado de um aluno portador de deficiência, ajudando-o a sobreviver numa selva, literalmente. Porém, os animais ferozes que ameaçam os mais fracos às vezes parecem alguns professores. São exceções, pois me deparo com outros profissionais absolutamente dispostos a ajudar. Mas há quem não quer o aluno de inclusão dentro de sala de aula. Alguns professores não têm paciência, não sabem o que fazer e ainda precisam “dar conta” de 20 ou 30 alunos barulhentos. Eu, na posição de auxiliar, me espanto com tamanha dificuldade de lidar com essa situação.

O sistema é cruel para todos os envolvidos. Não há como negar. As escolas são obrigadas a cumprir uma lei (https://todospelaeducacao.org.br/noticias/conheca-o-historico-da-legislacao-sobre-educacao-inclusiva/), sem ter preparo suficiente; os pais ficam esperançosos ao ver o filho frequentando uma escola regular, mas ao mesmo tempo se preocupam com o tratamento e apoio que ele terá; os professores não sabem quais atividades oferecer ao aluno, pois muitas vezes não foram preparados para isso; e os alunos assistem atônitos, com vontade de ajudar mas sem saber o que fazer. Enfim, não há culpados. Todos os atores dessa peça tem seu papel. Alguns deles trocam o texto, outros ficam nos bastidores, e tem até gente que não faz questão nenhuma de abrir o teatro. E cadê o aluno que é portador de deficiência? Parado, no meio do palco, com um holofote na cabeça. Ele quer estar lá, quer ter voz, se apresentar. Mas e agora?

Este é apenas o início de inúmeras reflexões que precisam ser feitas. Afinal de contas, como fazer da inclusão escolar algo benéfico para o aluno que precisa estar em sala de aula, com todos os demais? E se ele é tratado como um estorvo por professores e com indiferença pelos alunos? Minha experiência como apoio à inclusão apenas começou e, felizmente, já posso colecionar pequenas grandes alegrias diárias, observando o progresso de meu aluno. A cada dificuldade superada, uma celebração. A cada atividade coletiva, uma risada com os colegas. E a possibilidade de fazer um aluno portador de deficiência participar de uma aula como qualquer outro. Alunos de inclusão podem até ser considerados “enxeridos”, pois entraram em um sistema que não os via, os repelia. Mas eles não são. Eles devem ser protagonistas de seu processo de aprendizagem e precisam de uma rede de apoio afinada para sua trajetória ser bem sucedida. Eles devem ser instrumento para que a escola seja um lugar cada vez melhor para se estar cheio de oportunidades, desafios e cercado de afeto por todos os lados. Nós, professores, nos tornamos alunos destes protagonistas. Ganhei um pequeno professor que me ensina a ser uma pessoa melhor todos os dias.

*Publicitária e professora de inglês. Daiana Souza escreve quinzenalmente neste espaço. Tem alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito do tema? Utilize os espaços abaixo para comentários.