SALA DA TEACHER DAIA: O professor que (des)motiva

Um professor que se importa com o aluno, que demonstra entusiasmo e que se compromete com o aprendizado do estudante é fator chave para que tudo dê certo dentro da sala de aula

Por Daiana Souza*


Quando você pensa nos tempos de escola, de que você lembra? Certamente das brincadeiras com os colegas, da hora do recreio e das aulas que você adorava - ou não. E se eu perguntasse: de quem você lembra com carinho? Sem dúvida: daquela professora ou professor que fez a diferença em sua vida. Afinal, foram horas em que assistimos a falas interessantes, indagações curiosas para depois colocar nosso aprendizado em prática através de exercícios e trabalhos com os colegas. Não é à toa que dizem que a fase escolar é uma das melhores de nossas vidas.

E quando ir à escola se torna uma experiência traumática, ruim? Será que é por causa de problemas estruturais, como falta d’água ou de luz? Ou será que é por causa de colegas maldosos, que fazem bullying? Na verdade não é por nenhuma dessas razões, pois elas existem em qualquer contexto escolar. Em algum momento vai faltar luz ou vai ter um forro caindo; vai ter aquele grupo de estudantes que xinga, que briga e que faz confusão. Até a direção da escola pode ser péssima administradora, que não vai causar traumas. Mas nada, absolutamente nada, pode ser pior do que um professor que desmotiva o aluno.

Dias atrás, vendo um aluno passar no corredor da escola onde atuo, ouvi ele esbravejar: “a profe me chamou de jumento!”. Isso me lembrou de outros episódios recentes que presenciei, sempre de relatos vindo dos alunos. Reclamações e lamentos daquelas crianças e adolescentes que esperavam uma acolhida ou palavra amiga de seus mestres, mas que foram agredidos verbalmente, de certa forma. A indiferença do professor também machuca muito. Outro aluno disse certa vez que não fazia nada das atividades propostas pela professora em questão pois não gostava dela. E muitos não gostavam do jeito que eram tratados por ela.

Diante disso tudo, me pego pensando: qual será o impacto desse jeito torto do professor na motivação e na aprendizagem do aluno? Provavelmente negativo, pois desde a minha primeira coluna na Sala da Teacher Daia eu trago pesquisas e informações que confirmam a relação entre afetividade e uma aprendizagem bem sucedida. Mas aí me apoiei em um pesquisador húngaro chamado Zoltán Dörnyei, referência mundial em educação que afirma: o professor é o elemento fundamental na motivação do aluno.

Em suas pesquisas entre estudantes, Dörnyei e outros autores constataram que o comportamento do professor é a ferramenta motivacional mais importante para o aluno ter uma experiência de aprendizagem bem sucedida. Ou seja, um professor que se importa com o aluno, que demonstra entusiasmo e que se compromete com o aprendizado do estudante é fator chave para que tudo dê certo dentro da sala de aula. Outros elementos como o relacionamento que o professor estabelece com alunos e pais também fazem a diferença na hora de aprender. Dörnyei diz: “se os estudantes sentem que o professor não se importa, esta percepção é o caminho mais rápido para a desmotivação”. E isso vale para o que o professor espera dos alunos. Se eu sinto que meu professor não acredita no meu progresso, por que eu acreditaria? No livro Motivational Strategies in the Language Classroom (Estratégias Motivacionais na Aula de Idiomas, em tradução livre) o autor mostra inúmeras estratégias para que a motivação dos alunos melhore em sala de aula. Aqui mencionei apenas alguns pontos muito legais do que Dörnyei propõe, mas a leitura deve ser estendida para além da aula de idiomas. Não consegui parar de pensar nas queixas dos alunos diante do comportamento dos professores. E comecei a me lembrar de quando, por algum motivo, desmotivei meus alunos com algo ruim que havia dito, ou até com algum grito de impaciência. Não podemos duvidar da importância de nossas palavras e atitudes e do peso que elas têm na vida de nossos alunos. Eles vão para a escola por causa de nós. E escolhem não ir mais também por nós.


Em tempo: escrevo este texto lamentando profundamente a morte da cantora Marília Mendonça, que nos deixou tão cedo. Marília merece um texto somente sobre seus ensinamentos preciosos de empoderamento feminino. Nós, mulheres, ganhamos uma professora na arte de desabafar, de falar de sentimentos e de escrachar os homens que tanto nos fazem sofrer. Com seu exemplo, podemos repensar nossas escolhas e sim, chorar e desabafar como queremos. Marília, obrigada por tudo.


*Publicitária e professora de inglês. Daiana Souza escreve quinzenalmente neste espaço. Tem alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito do tema? Utilize os espaços abaixo para comentários.