QUANDO INVESTIGAR DIABETES TIPO 2 EM CRIANÇAS E JOVENS

Endocrinologista alerta sobre características da doença e exames necessários

A cada ano, em novembro, diversos movimentos de conscientização sobre o diabetes são realizados em todo País. No dia 14, celebra-se o Dia Mundial do Diabetes,  visando ampliar o conhecimento das populações sobre a doença. 

Hoje o diabetes atinge cerca de 415 milhões de pessoas em todo o mundo e continua a aumentar em todos os países, estimando-se que em 2040 haja um aumento para 642 milhões de pessoas atingidas pela doença.

"Embora esta doença seja largamente diagnosticada em adultos, sua frequência tem aumentado de modo significativo na faixa pediátrica desde o fim do século 20, sendo o diabetes tipo 2 (que afeta a forma como o corpo processa o açúcar do sangue) responsável por cerca de 1/3 dos casos de diabetes em crianças e adolescentes atualmente.  A fisiopatologia da doença em crianças é semelhante à do adulto, com destaque para a resistência à insulina e para o risco elevado que se associa à obesidade", alerta a endocrinologista Patrícia Peixoto, membro Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, da Abeso (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade) e da Endocrine Society.

Diferenciar o tipo de diabetes, se tipo 1 ou tipo 2, é importante. Patrícia destaca as características típicas do tipo 2 na criança: 

  • Instalação lenta e insidiosa 
  • Mais comum em pacientes com sobrepeso ou obesidade 
  • Com sinais de resistência à insulina
  • Forte história familiar de diabetes tipo 2
  • Hábitos de vida na família que levam a obesidade podem estar presentes, bem como história familiar de doenças cardiovasculares e síndrome metabólica. 

Mas quando investigar a presença de diabetes em uma criança?  

Pelos atuais consensos de endocrinologia, isso deve acontecer quando temos um jovem com sobrepeso e que tenha dois dos  fatores:

  • História familiar de diabetes tipo 2 em parentes de primeiro ou segundo grau.
  • Sinais de resistência a insulina ou condições associadas a ela: acantose nigricans, hipertensão arterial, colesterol elevado e síndrome de ovários policísticos.

Patrícia explica quais são os fatores de risco para o diabetes: 

  • sedentarismo; 
  • Faixa de idade dos 12-16 anos, quando se intensifica a resistência à insulina devido ao desenvolvimento puberal;
  • crianças com baixo peso ao nascer ou que tenham nascido com mais de quatro quilos; 
  • filhos de mães com diabetes gestacional ou diabetes tipo 2 ; 
  • Crianças que não receberam aleitamento materno;
  • Uso de antipsicóticos, antidepressivos e lítio. 

Para investigar o problema,  recomenda-se fazer uma avaliação inicial aos dez anos ou no momento da puberdade, caso ela ocorre mais cedo. "Vale ainda repetir essa avaliação a cada 2 anos e começar a investigação com a glicemia de jejum no sangue. Se há suspeita forte mas o resultado é normal  (< 100 mg/dL), um teste de tolerância a glicose deve ser considerado", alerta a endocrinologista.

"Estes exames devem ser avaliados pelo médico endocrinologista e, se for feito o diagnóstico, outros serão necessários, para ajudar a excluir que seja diabetes tipo 1, além de avaliar níveis de colesterol após se obter controle da glicose com o tratamento, além de também avaliar se já há alterações renais e outras complicações", explica  a médica.  

Os alvos de tratamento em crianças e adolescentes são um pouco diferentes dos de adultos. "É sempre importante tratar também o sobrepeso ou obesidade que pode estar presente", diz a endocrinologista . 

Segundo a médica,  são particularidades deste grupo etário: 

  • O envolvimento da família no tratamento é ainda mais importante;
  • A educação em diabetes e mudanças de estilo de vida são prioridade;
  • O tratamento medicamentoso é mais restrito, pois somente alguns têm estudos de segurança para este grupo;
  • Embora ainda não se saiba tanto sobre como evolui o diabetes tipo 2 em crianças, a experiência acumulada no tratamento dos adultos é importante para se evitar as complicações para estes pacientes;

Tem chamado a atenção o risco aumentado de doença cardiovascular nesta faixa etária, quando eles chegam a idade de adulto jovem. Isso sugere que o diabetes tipo 2 de instalação precoce pode ter um comportamento mais agressivo para o coração e vasos sanguíneos. 

Em relação a este ponto, o trial clínico de tratamento TODAY(Treatment Options for Type 2 Diabetes in Adolescents and Youth ), um estudo que acompanhou um grupo de jovens com diabetes tipo 2, com objetivo de comparar eficácia de tratamentos, mostrou altas taxas de complicações e doenças associadas, como hipertensão arterial, dislipidemia, retinopatia e problemas renais, já no nos primeiros meses após o diagnóstico. "Isso reforça que nesta faixa etária o diabetes possa evoluir de modo mais acelerado e que medidas de prevenção e diagnóstico precoce se fazem necessários, para proteger essas crianças do surgimento de problemas mais graves, principalmente renais e cardiovasculares ao atingirem a terceira ou quarta décadas de vida", destaca a endocrinologista. 

 

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