POR QUE DEVEMOS PARAR DE ROMANTIZAR A BARBÁRIE

Dica de leitura chega com as impressões de mais um debate do Leia Mulheres Novo Hamburgo

*Por Aline de Melo Pires

Um grupo forte, com opinião firme, mas aberto ao conhecimento e ao bom debate. O Leia Mulheres Novo Hamburgo está crescendo e se fortalecendo, e a literatura produzida por autoras ganha cada vez mais espaço. Tem sido assim nos últimos três meses e os encontros mediados pelas nutricionistas Michele Blankenheim e Samira Gonçalves se fortalece em torno de uma das maiores delícias da vida: ler. O encontro mais recente, em 15 de junho, levantou o debate em torno da aclamada obra da escritora Adriana Negreiros, Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço, publicado pela Editora Objetiva, a quem fazemos um agradecimento especial por ter enviado um exemplar ao Temas Preferidos.

O livro, embora aborde um tema conhecido à exaustão entre os brasileiros, coloca a história da mulher que escolheu ser cangaceira sob uma outra ótica, um outro olhar que leva à reflexão e nos faz entender muito sobre o que somos hoje, sobre o que sentimos. Ao final da leitura, podemos perceber, que nada, praticamente, mudou. E nos impele a falar, a debater, a lutar pela mudança

O relato de Adriana Negreiros nos leva a deixar de romantizar a barbárie, afinal de contas, cangaceiros, liderados pelo amor de Maria Bonita, eram sanguinários, frios, cruéis sem limites. Não poupavam mulheres, crianças ou idosos. Mulheres, inclusive, estavam entre seus alvos prediletos e, com raríssimas exceções não escolhiam ser cangaceiras, eram raptadas, violentadas e obrigadas a entrar um caminho sem volta. O que muita gente não sabe é que Maria Bonita é um personagem que nasceu somente quando Maria Gomes de Oliveira morreu, assassinada pela polícia ao lado de seu amor, e outros cangaceiros, decapitados.

Até sua morte, em 1938, ela era conhecida apenas como “a mulher do capitão” tendo protagonizado algumas cenas de barbárie, mas também raros episódios de compaixão por alguns capturados pelo bando.

Outro viés da história, leva a ver o contexto político e da segurança na época, havia a corrupção, a compra de cargos e colocações em troca de benefícios. Maria Bonita pertenceu a um bando em que seu líder tinha forte influência política e social. Só foram pegos por que foram traídos.

Realizados na simpática Casa da Praça, em Novo Hamburgo, os encontros sempre são regados a um chá quentinho, café e comes. Aproveitando a deixa, as mediadoras sugeriram uma pequena comemoração em torno da protagonista do mês com uma festa junina. E não faltou música, o debate foi embalado pela trilha Cantigas de Lampeão, que um dos próprios cangaceiros gravou, o terrível Volta Seca, sugestão da própria autora, que tem acompanhado e interagido com o grupo pelas redes sociais.

O próximo encontro já está marcado: o Leia Mulheres Novo Hamburgo vai discutir poesia a partir da obra Outros Jeitos de Usar a Boca (Editora Planeta), de Rupi Kaur. Será em 27 de julho. Para conferir o evento e participar do grupo (vem!) é só acessar aqui.

*Jornalista e editora do Temas Preferidos

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