A música é um instrumento não invasivo, seguro e uma forma de intervenção sem custos que pode auxiliar o paciente antes, durante e após a cirurgia. É o que afirma o artigo "Music as an aid for postoperative recovery in adults: a systematic review and meta-analysis" (A música como uma ajuda para a recuperação pós-operatória em adultos: revisão sistemática e metanálise) escrito por pesquisadores da Queen Mary University of London e da Brunel University e publicado este mês na revista The Lancet.
Detalhes da pesquisa e conclusões:
Conforme explicou o médico Sergio Cortes, através do método de revisão sistemática e metanálise, os pesquisadores britânicos reuniram estudos já realizados que se debruçaram sobre a questão da música como um auxílio na recuperação pós-operatória.
O processo de revisão sistemática identificou 4261 títulos e resumos sobre o tema e 73 ensaios controlados randomizados, somando um total de 6902 pacientes. O efeito da música foi analisado sobre as seguintes questões pós-operatórias: dor, necessidade de analgesia, ansiedade e tempo de permanência; o efeito da música também foi analisado sobre os seguintes subgrupos: escolha da música pelo paciente, duração da intervenção e uso de anestesia geral.
A análise do material mostrou que ouvir música reduz as dores, a ansiedade, o uso de analgésicos e aumenta a satisfação do paciente no período de recuperação cirúrgica. Porém, o tempo de permanência do paciente não sofreu alterações. Nenhum dos estudos reportou efeitos colaterais, apontou Sergio Cortes.
Quando e qual música ouvir:
Os pacientes devem ser livres para escolher o tipo de música que preferem ouvir, mas não ficou claro para os pesquisadores se a música deve ser uma escolha pessoal ou se deve ser escolhida entre as músicas de uma playlistpré-estabelecida. Quanto ao gênero musical, segundo Sergio Cortes, a pesquisa afirmou não existir um tipo de música que se sobressaia na recuperação do paciente.
Algumas equipes médicas preferiram que a música fosse ouvida durante a cirurgia, enquanto outras preferiram que o paciente ouvisse de forma individual com seu próprio aparelho antes do procedimento ou assim que chegasse na sala de recuperação. O volume apropriado para diferentes situações não ficou claro.
Ouvir música durante a cirurgia foi efetivo até mesmo quando os pacientes estavam sob anestesia geral, mas apesar de os resultados indicarem benefícios de se ouvir música antes, durante ou após a cirurgia, Sergio Cortes ressalta que os resultados mostraram que a dor, a ansiedade e a necessidade de analgesia diminuíram de forma um pouco mais significativa quando o paciente ouvia música antes da cirurgia.
Pesquisadores pedem que o estudo seja colocado em prática nos hospitais:
O uso de música para melhorar a experiência dos pacientes com a recuperação não é novidade e esse tipo de intervenção foi descrito pela primeira vez em 1914. Embora exista um grande número de estudos relevantes, a música não vem sendo utilizada como uma intervenção terapêutica em práticas cirúrgicas, pois as informações sobre sua eficácia não têm sido sintetizadas e disseminadas globalmente. Assim, esta pesquisa, ao reunir um número tão grande de estudos sobre o assunto, contribui de forma importante para a divulgação de um conhecimento que merece maior divulgação. Prova de que a pesquisa atingiu um público além de seus próprios pares, é que o Ministério da Saúde britânico pronunciou-se pedindo que os médicos levem em consideração as descobertas do estudo.
O artigo encerra sugerindo que os resultados da pesquisa possam ser aplicados em escala local. Como indica Sergio Cortes, citando as recomendações dos pesquisadores, os pacientes poderiam receber folhetos informativos que os incentivassem a ouvir música, assim como o tema poderia fazer parte das diretrizes hospitalares.