O SONHO NOSSO DE CADA DIA

Por Lola Carvalho*

Vamos falar sobre sonhos? Não estou falando daqueles sonhos que compramos na padaria, que podem vir recheados com doce de leite ou creme. Estou falando dos sonhos que nos movem, que nos fazem acordar todos os dias pela manhã, que nos impulsionam a seguir em frente.

Desde pequena percebia uma inclinação para a escrita. Adorava colocar tudo no papel: ideias, desabafos, tarefas. Colecionava cardernos e blocos. Adorava escrever cartas; inclusive para mim mesma. Muitas vezes, nem chegavam ao destino. Quando relia, percebia que já tinha perdido o sentido entregar ao destinatário e, simplesmente, rasgava e jogava fora.

Mais madura, já com uma relação mais íntima com a leitura, fui me apaixonando pelo ofício de escritor. Ficava fascinada com a capacidade que eles (os autores) tinham de nos fazer viajar por lugares nunca antes visitados, nos apaixonar por pessoas nunca antes conhecidas e amar ou odiar personagens.

Quando meu primeiro filho nasceu, comecei a escrever como nunca. O processo de depressão pós-parto foi uma mola propulsora para me movimentar em direção às palavras. Nelas, eu encontrava conforto e conseguia jogar sentimentos que estavam me fazendo mal para fora de mim. Com o tempo, comecei a compartilhar estes textos e a receber um retorno incrível de mães que enfrentavam o mesmo e se sentiam abraçadas pelos meus relatos.

Até que um dia, decidi transformar estes textos em um livro. Um livro que tocasse as mães de uma forma verdadeira e que fizesse com que os desafios inerentes à maternidade pudessem ser divididos entre nós, as mães.

Quando achei que estava com material suficiente para publicar, fui em busca de editoras. Bati na porta, ou melhor, na caixa de e-mail de várias e a resposta era basicamente a mesma: ‘muito obrigada pelo seu contato, mas a sua publicação não combina com o perfil editorial que buscamos’. E quando eu tinha a sorte de encontrar uma editora com perfil editorial, não havia verba para investir numa nova publicação.

O tempo foi passando e eu segui escrevendo e compartilhando meus textos. E um dia vi um anúncio de um curso de formação de escritores em Porto Alegre. Um curso de dois anos, estudando os principais gêneros literários. Mesmo sendo à noite, falei com meu marido e ele topou me dar todo o suporte para eu fazer e lá fui eu.

E finalmente, o meu primeiro livro nasceu. Aquele sonho que eu estava quase abandonando se tornou realidade e aqui estou, para dividir esta alegria com vocês.

Muitas vezes, nos boicotamos e minimizamos a importância dos nossos sonhos. Olhamos para eles com uma certa incredulidade ou pensamos que o mundo já é desafiador o suficiente para assumirmos mais riscos. Mas quanto vale apostar naquilo que acreditamos e que nos faz feliz? Ou melhor, qual o preço de ignorar nossos sonhos em detrimento de nos mantermos em nossa zona de conforto?

Sonhar é algo relativamente simples. Basta pensarmos, colocarmos nossa mente para funcionar e lá estamos, realizando nossos sonhos mentalmente. Mas fazer o sonho acontecer dá muito mais trabalho. Exige disciplina, perserverança, coragem, paixão. É ignorar as opiniões contrárias (que quase sempre são maiores) e ir em busca do que acreditamos, mesmo que ninguém mais acredite.

Neste momento, estou terminando esta coluna e vou para Porto Alegre, para a sessão de autógrafos do Mãe Sem Limite – relatos de uma mãe totalmente normal, na 65ª Feira do Livro de Porto Alegre. Um sonho realizado depois de dez anos. Um projeto que me enche de orgulho e me impulsuona a seguir escrevendo. E a cada relato que recebo de leitoras que estão lendo o livro agora, consigo entender que nada foi em vão.

Por isso, gostaria de fechar esta coluna com uma provocação: qual a importância que você está dando para os seus sonhos?

Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo.

Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.

Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe.

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