NOVEMBRO AZUL: E A SAÚDE MENTAL, COMO FICA?

Cuidado com o bem-estar mental também deve ser estimulado quando se trata da saúde do homem

O Novembro Azul é o mês que tem foco no reforço à prevenção e cuidado com a saúde do homem, especialmente no que se refere ao câncer de próstata. Mas, é preciso olhar com atenção para um outro aspecto: a saúde mental. Conforme indicam as estatísticas e pesquisas de várias instituições, a procura por parte dos homens de tratamento psicológico é menor se comparado com as mulheres.

Estes dados refletem informações de instituições públicas, e também privadas, que mantêm coletas de dados e informações que posteriormente podem vir a servir de base de dados para análise. As afirmações são do psicólogo Ricardo Cataneo, que integra a equipe do Núcleo de Atendimento Psicológico (NAP), em Novo Hamburgo.

"Penso que este fato, dos homens buscarem menos atendimento terapêutico do que as mulheres, se deve muito a um condicionamento sociocultural, que vai influenciando as relações de gênero e, dentro do processo de socialização, constrói uma ideia de que os homens devem ser fortes, esconder seus sentimentos e problemas psíquicos, serem resistentes e não manifestar nenhuma fraqueza emocional durante a vida.
Aqui poderíamos adentrar em conceitos como masculinidade, machismo, preconceito, por exemplo, para amparar mais ainda nossa reflexão", observa o psicólogo.

Por outro lado, ele faz uma consideração interessante. Cataneo também trabalha em clínica de atendimento para a população em geral e percebe esta condição dentro da instituição. Mas, quando se trata de consultório, onde a procura é particular, ou seja, quem procura um psicólogo em seu consultório particular de certa forma fez uma escolha pelo profissional, diz perceber que hoje atende mais homens do que mulheres.

"Não posso aqui afirmar que isso é igual para todos os terapeutas homens que atendem em consultório particular, visto que nunca fiz uma pesquisa com colegas. A avaliação que faço deste dado é a de que os homens talvez se sintam mais confortáveis em expor suas questões íntimas para outro homem, entendendo que poderão ser melhor acolhidos e não correrem o risco que se sentirem humilhados frente a uma terapeuta mulher, no que se refere a sua imagem e masculinidade", diz, ao ressaltar que esta dificuldade seria uma questão própria do sujeito, visto que todo o profissional deveria ter condições de poder acolher da melhor maneira possível, sendo homem ou mulher, as demandas que venham a surgir no decorrer do trabalho.

No entanto, prossegue Cataneo, para o tratamento poder caminhar em busca de uma efetividade frente a sua proposta, essas demandas também precisam ser exploradas e trabalhadas pelo homem que procura tratamento psicológico.

Risco de suicídio

Dados da Secretaria de Vigilância da Saúde apontam que, no Brasil, homens têm um risco 3,8 vezes maior de morte por suicídio que mulheres. Em cerca de 80% dos casos, suicídio está relacionado a transtornos mentais, como a depressão. Cataneo acredita que estes dados reforçam as estatísticas sobre a busca de tratamento psicológico para uma melhor saúde mental. Segundo ele, considerando que os homens acessam menos os tratamentos, por dedução, estariam mais propensos a sofrerem as consequências de uma saúde mental precária, como o aumento do estresse, da ansiedade e também da depressão, além do uso de substâncias como álcool e drogas.

Avaliando com mais atenção a questão da depressão e suicídio, continua o psicólogo, pesquisas apontam que a depressão tem grande prevalência nos casos de tentativa e/ou atos de suicídio consumado. Talvez o sujeito, acometido de depressão, onde a tristeza, o desânimo, a falta de perspectiva na vida e no futuro, busque a ideia do suicídio com único recurso possível que poderia acabar com o seu sofrimento. "A identificação precoce das pessoas que apresentam quadro de depressão moderada a grave, torna-se essencial para prevenção do suicídio", afirma Cataneo.

Pela quebra de tabus

É preciso explorar mais o que pode afastar os homens dos consultórios de terapeutas. Se a terapia, de um modo geral, já é envolta em preconceitos, quando vem do universo masculino isso pode ser ainda mais acentuado. Afinal de contas, quem nunca ouviu as afirmações "psicólogo é para louco", "não vou falar da minha vida para um desconhecido".

De acordo com Cataneo, estes talvez sejam discursos, entre tantos outros, que trazem à tona questões muito importantes, como a dificuldade em acessar os sentimentos, as angústias, os medos, que muitas vezes são confusos. "É preciso muito recurso psíquico, ou muita saúde mental, para saber lidar com eles da melhor forma possível. A ideia de falar, e ter, sentimentos e afetos pode acabar sendo associado a uma característica mais frágil e sensível no imaginário dos homens que não cuidam bem da sua saúde mental. Se pensarmos na questão da masculinidade, do machismo e preconceito citado anteriormente, podemos ter uma hipótese a respeito dos tabus que podem estar vinculados à busca de um tratamento para uma melhor qualidade de vida psíquica", diz o psicólogo.

Então, fica a dica, a orientação para a busca de ajuda, não somente diante de uma crise ou de um problema específico. A terapia é ao mesmo tempo tratamento e prevenção. Procure profissionais de confiança, converse com pessoas que fazem terapia e cuide do corpo também. "É importante, da mesma forma, a prática de atividades físicas, a busca e manutenção de amizades saudáveis, uma boa alimentação, dispor de um tempo no dia a dia para o lazer, para fazer coisas que se gosta e são saudáveis", orienta Cataneo, que é formado pela Universidade Feevale, especialista em teoria psicanalítica e clínica com adultos.