Mulher: De onde vem o orgulho de trabalhar?

Angélica Madalosso defende que a marca empregadora começa de dentro para fora e explica por que algumas empresas são amadas - e outras, esquecidas

Em um mundo onde o trabalho deixou de ser apenas um meio de sobrevivência para se tornar parte da identidade das pessoas, o que faz alguém sentir orgulho da empresa onde trabalha? Essa pergunta tem guiado a trajetória de Angélica Madalosso, CEO e cofundadora da ILoveMyJob, hub especializado em employer branding – um conceito que, apesar de recente no Brasil, já está mudando a forma como as marcas se relacionam com seus funcionários. O assunto é muito mais profundo do que um pacote de benefícios ou frases motivacionais espalhadas pelos corredores da empresa. Para Angélica, tudo começa pela experiência real do colaborador.

"Eu sempre fui apaixonada pelo trabalho e pelas empresas onde estive. Mas, no caminho, percebi que esse sentimento era raro. A maior parte das pessoas via o emprego como uma obrigação, não como um espaço de crescimento. Foi aí que entendi que havia um problema e que eu poderia ajudar a resolvê-lo", conta.

O que faz uma empresa ser desejada?

A ILoveMyJob nasceu como um perfil de conteúdo nas redes sociais. No início, era apenas um espaço para compartilhar ideias sobre marca empregadora, cultura organizacional e comunicação interna. Mas a reação das pessoas mostrou que havia uma lacuna no mercado.

"Eu falava sobre empresas que valorizavam seus funcionários de verdade, e muita gente comentava: ‘Queria trabalhar num lugar assim’. Então percebi que employer branding não era só um tema de debate, mas uma necessidade concreta das empresas", lembra.

Hoje, a empresa lidera diagnósticos estratégicos para marcas que querem atrair e reter talentos de maneira genuína. No último ano, trabalhou com empresas como Mars, Natura e Cosan, e os ajudou a entender o que realmente importa para os profissionais na hora de escolher e permanecer em um emprego.

“O que motiva alguém a vestir a camisa de uma empresa não é apenas o salário. As pessoas querem se identificar com os valores da empresa, enxergar crescimento e sentir que seu trabalho faz sentido”, explica.


Liderança feminina e a construção de espaços de pertencimento

A ILoveMyJob não apenas assessora empresas a se tornarem mais atrativas para talentos, mas também pratica o que prega. Fundada por mulheres, a empresa tem hoje mais de 65% do time feminino, sendo 60% em cargos de liderança.

"Empreender como mulher ainda é um desafio, e liderar sendo mulher exige o dobro de esforço. Muitas vezes, comportamentos que são admirados em um CEO homem são interpretados como ‘grosseria’ ou ‘falta de empatia’ em uma mulher. Mas não me abalo com isso. Prefiro focar no impacto do nosso trabalho", diz Angélica.

Além de oferecer consultoria para grandes marcas, a empresa também apoia mulheres que desejam se recolocar no mercado. Em 2021, por exemplo, realizou workshops gratuitos de capacitação profissional e, desde então, já concedeu bolsas de estudo para mais de 30 mulheres se especializarem em employer branding.

"Sempre digo que minha empresa tem duas fundações: minha filha e a ILoveMyJob. A maternidade me ensinou a priorizar o que importa e a não perder tempo com o que não agrega. No empreendedorismo, essa lição vale ouro", reflete.


O que vem pela frente

Para Angélica, o futuro das empresas passa por uma transformação cultural inevitável: quem não investir na experiência do colaborador, vai perder espaço para quem entendeu esse jogo primeiro. "As pessoas já não aceitam qualquer coisa. A relação entre empresas e funcionários mudou, e agora a escolha não é só do recrutador, mas também do candidato", destaca.

Enquanto algumas empresas ainda veem o employer branding como uma estratégia de marketing, Angélica insiste que ele deve ser uma prática real, refletida no dia a dia da organização. "Se a empresa não for honesta sobre o que oferece, os próprios funcionários vão expor essa contradição. O employer branding verdadeiro não se constrói com discurso, mas com ações", conclui.