MÃE SEM LIMITE: Quanto vale um like?
A minha geração (e talvez a sua também) era pautada por interações reais. Nossos “haters” e nossos “lovers” tinham rosto, endereço e telefone. Podíamos contar nos dedos das mãos a quantidade de seguidores. Todos reais.Por Lola Carvalho* Fui impactada com uma matéria da Revista Crescer sobre uma mãe que deletou o TikTok e o Instagram da filha de 14 anos, que acumulava dois milhões de seguidores. Percebendo que a adolescente estava perdendo a noção da realidade e vivendo para acumular likes e emojis a todo o custo, a mãe tomou a decisão de apagar as contas até que a jovem tivesse maturidade para lidar com o excesso de exposição. Ela foi bombardeada por críticas e xingamentos por parte dos seguidores da filha, que definiram o ato como uma invasão de privacidade, ciúmes do sucesso e destruição de todo um ‘trabalho’. Analisando de fora, a atitude desta mãe me parece um ato muito corajoso de preservação emocional da filha, que está vivendo o auge da adolescência, quando se aprimora o autoconhecimento, se constrói a autoimagem e desenvolve a autoestima. A minha geração (e talvez a sua também) era pautada por interações reais. Éramos amados ou odiados “na lata”, ao vivo e a cores. Na escola, nas festas, na rua. Nossos “haters” e nossos “lovers” tinham rosto, endereço e telefone. Podíamos contar nos dedos das mãos a quantidade de seguidores. Todos reais. Hoje, tudo é pautado pelas redes sociais. O sucesso de alguém é medido pelo número de seguidores e pelo engajamento, independentemente do tipo de conteúdo. Pode ser uma dancinha, um tombo, uma dublagem bobinha, ou até algo totalmente ao acaso, mas se viralizar, a fama chega em questão de horas. E se para pessoas adultas é fácil se perder em meio a esta noção irreal de relevância, ou a dificuldade de saber lidar com as críticas e com mensagens de ódio, imagina para um adolescente que está começando a entender o seu lugar no mundo. Infelizmente, esta geração está presa dentro de casa. Vendo a vida passar pelas redes sociais, em chamadas de vídeo e ‘trends´ do tiktok. Excesso de informação, excesso de exposição, excesso de estímulos. Tudo é demais. Eles não sabem ficar em silêncio, sem fazer nada. Eles não conseguem ficar sem o celular na mão. Ficar sem conexão (de internet) é o fim. Não sabem viver offline. Muitos têm dificuldade de se relacionar, não conseguem desenvolver um raciocínio lógico ou argumentar. Ao mesmo tempo, é um grande desafio para os pais acharem o ponto de equilíbrio na educação dos filhos. Na minha opinião, a linha entre proteger e invadir é muito tênue. Tenho pensado muito nisso. Nesta missão de ser mãe e pai desses meninos e meninas. Voltei para a terapia para encontrar algumas das respostas, pois sei que a jovem que eu fui, tem relação direta com a mãe que eu sou hoje e com as reações que eu tenho às questões que meus filhos me trazem. Não quero invadir a privacidade. Sou contra o controle parental no celular. Acho que tudo deve ser pautado pelo diálogo, pela confiança, pelo exemplo e pelo amor. E mesmo tendo certeza de toda essa primeira parte, ainda tenho dúvidas se este é o melhor caminho. Afinal, fui educada de forma tão diferente. Muito mais unilateral. Nossa intenção como pais é fazer diferente, mas no fim de tudo, cada um de nós sabe que o nosso trabalho vai até uma parte e depois, temos que abrir espaço para que nossos filhos montem o seu próprio repertório a partir de seus acertos e seus erros. Como pais, precisamos mostrar o caminho, mas não podemos caminhar por eles. e-mail: lolacarvalho75@hotmail.comfacebook: @maesemlimiteInstagram: @lolacarvalho Publicidade Publicidade |