MÃE SEM LIMITE: O fim pode ser um (re) começo

"...como diz a letra de uma música da Legião Urbana, “...até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás. Apenas começamos. O mundo começa agora! Apenas começamos!”

Por Lola Carvalho*

Pensar no fim, nunca é confortável. A tendências da grande maioria das pessoas é alimentar a falsa sensação de que a vida é para sempre. Evitamos olhar para o fato de que a única certeza que temos é essa: de que todos nós morreremos um dia. Mas empurrar este assunto para debaixo do tapete, evitando pensar ou falar sobre, não nos livra de vivenciar este sentimento de perda algum dia.


Sempre me senti mais confortável acreditando que todos nós estamos neste mundo apenas de passagem. Que, independente da idade, quando concluímos o que estávamos destinados a realizar por aqui, deixamos este plano e seguimos em frente em outro lugar, em outra dimensão. Só que este é apenas um discurso que conto para mim mesma. A realidade é que não sei perder alguém. Não sei lidar com a morte. Não perdi ninguém tão próximo a mim, ao ponto de viver na pele este sentimento de perda.


Há mais de um ano estamos em meio a uma pandemia mundial. Passamos dos 400 mil mortos no Brasil e isso têm nos colocado em contato com a morte diariamente. A ponto de que em maior ou menor grau, todos nós conhecemos ou sabemos de alguém que se foi ou que perdeu uma pessoa querida em função da Covid-19. Mas é inevitável pensar se todas estas vidas seriam realmente perdidas se não fosse a pandemia, ou se estivéssemos em uma situação melhor em termos de controle de transmissão e vacinação para todos.


Temos vivido dias muito difíceis. O medo tomou conta de todos nós e tem interferido diretamente em nosso comportamento. Estamos mais reclusos, evitamos ao máximo ter contato com pessoas fora do nosso círculo familiar. Vivemos sob tensão, com medo de pegar a doença, com medo de que nossos filhos peguem, com medo que nossos pais sejam contaminados. Nunca sentimos tanto medo da morte. E por isso, estamos deixando de viver e isso é muito triste.


Todos estamos no nosso limite, querendo de volta a nossa liberdade de ir e vir. As crianças não aguentam mais aulas remotas, querem estar com os colegas e professores em sala de aula. Adolescentes estão perdendo uma das fases mais importantes da vida, enclausurados dentro de seus quartos, vivendo através das redes sociais. Nós, adultos, não aguentamos mais a falta de convívio social, a impossibilidade de encontrar nossos amigos, frequentar bares e restaurantes, viajar, sair de férias com a família, sair às ruas sem medo. Não aguentamos mais usar máscara!


Tenho muitos amigos que moram fora do Brasil, em países onde a vida já chegou em um patamar bem próximo daquela normalidade que estávamos habituados. O que me faz pensar que logo, logo, estaremos chegando perto desta realidade também. Mas, como diz a letra de uma música da Legião Urbana, “...até lá, vamos viver. Temos muito ainda por fazer. Não olhe para trás. Apenas começamos. O mundo começa agora! Apenas começamos!”.

*Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo. Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe. Site: lolacarvalho.com.bre-mail: lolacarvalho75@hotmail.comfacebook: @maesemlimiteInstagram: @lolacarvalho