MÃE SEM LIMITE: Infoxicação para aliviar a dor

“Com a impossibilidade de viver uma vida normal, as pessoas passaram a ter a necessidade de viver através das telas”

Por Lola Carvalho*

A palavra infoxicação foi criada pelo físico espanhol Alfons Cornellá em 1996.É a junção das palavras informação e intoxicação. Sofremos disso quando consumimos uma quantidade exagerada de conteúdo e somos incapazes de “digerir” tudo.

Em tempos de pandemia e isolamento social, a infoxicação se tornou um mal necessário, já que pessoas continuam tendo necessidade de fazer parte, estar informado e se sentir produtivo.

No início, foi uma correria desenfreada para se inscrever em algum webinar. Todo mundo queria ocupar o tempo. Aprender algum idioma, tocar algum instrumento, cozinhar, fazer macramê, compostagem, marcenaria doméstica, acompanhar alguma live que estava acontecendo em algum lugar do planeta.

Com a impossibilidade de viver uma vida normal, as pessoas passaram a ter a necessidade de viver através das telas. Nunca se vendeu tanto pacote de internet e serviços de streaming, nunca se produziu tantas séries, documentários, live shows (até Caetano aderiu às lives), nunca se requentou tantas novelas, programas de TV, nunca se produziu tanto conteúdo em tantas plataformas diferentes.

Mais de um ano se passou e tudo ainda está acontecendo muito mais nas telas do que na vida real. O problema é que as redes sociais mentem. Como diz o ditado, nem tudo o que reluz é ouro. Por trás de uma foto incrível pode estar alguém vivendo um caos interior. E, cá entre nós, em maior ou menor grau, estamos todos vivendo um pouco de caos todos os dias.

E não tem problema nenhum em se sentir assim. Somos seres humanos sociáveis vivendo em um mundo onde socializar é um crime sanitário. É natural se sentir triste, se sentir impotente, frustrado e até culpado por, eventualmente, se sentir feliz por não ter morrido, por não ter perdido ninguém, por não ter perdido o emprego, por não ter perdido a dignidade.

Eu mesma, que me considero uma pessoa que enxerga sempre o lado meio cheio do copo, tenho me percebido eventualmente triste, com vontade de chorar ou ficar sozinha. Aí, ao invés de acolher isso e deixar vir, pego o celular ou começo uma série nova, ou me matriculo em algum curso on-line. Fico ocupando meu tempo o tempo todo só para não olhar pra dentro. Isso se chama fuga. Pura e simplesmente.

Só que o problema é que nas redes sociais todo mundo é feliz. A impressão que eu tenho é que existe um universo paralelo onde não há pandemia. E aí, à medida em que vou dando rollout na tela, me sinto pior.

Só que a vida (a minha, a tua vida) está bem singela que passa através de restritas paredes continua acontecendo, mesmo que não estejamos percebendo.

No filme “Soul” – uma animação maravilhosa da Disney - (já deixo a dica para que assistam) o personagem principal passa a vida toda tentando realizar um sonho que faria com que ele fosse finalmente feliz. E essa obsessão o cega de tal forma, que ele não consegue perceber que a vida acontece no hoje, no aqui e no agora.

Então, a vida na verdade são estes pequenos fragmentos diários. Abraços de filhos, beijos de maridos e esposas e mães, cheiro de bolo quentinho, um elogio no trabalho, uma lembrança que te faz rir sozinho, ficar horas atirado no sofá só ouvindo o barulho do ambiente, panquecas, álbum de fotos, cheirinho de filho, um banho quentinho, uma conversa agradável, uma taça de vinho no fim do dia, ouvir a voz de alguém que amamos, ler um livro que nos leva longe e perceber como somos genuinamente felizes no dia de hoje.


*Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo. Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe. Site: lolacarvalho.com.bre-mail: lolacarvalho75@hotmail.comfacebook: @maesemlimiteInstagram: @lolacarvalho