MÃE SEM LIMITE: Infoxicação para aliviar a dor
“Com a impossibilidade de viver uma vida normal, as pessoas passaram a ter a necessidade de viver através das telas”Por Lola Carvalho* Em tempos de pandemia e isolamento social, a infoxicação se tornou um mal necessário, já que pessoas continuam tendo necessidade de fazer parte, estar informado e se sentir produtivo. No início, foi uma correria desenfreada para se inscrever em algum webinar. Todo mundo queria ocupar o tempo. Aprender algum idioma, tocar algum instrumento, cozinhar, fazer macramê, compostagem, marcenaria doméstica, acompanhar alguma live que estava acontecendo em algum lugar do planeta. Com a impossibilidade de viver uma vida normal, as pessoas passaram a ter a necessidade de viver através das telas. Nunca se vendeu tanto pacote de internet e serviços de streaming, nunca se produziu tantas séries, documentários, live shows (até Caetano aderiu às lives), nunca se requentou tantas novelas, programas de TV, nunca se produziu tanto conteúdo em tantas plataformas diferentes. Mais de um ano se passou e tudo ainda está acontecendo muito mais nas telas do que na vida real. O problema é que as redes sociais mentem. Como diz o ditado, nem tudo o que reluz é ouro. Por trás de uma foto incrível pode estar alguém vivendo um caos interior. E, cá entre nós, em maior ou menor grau, estamos todos vivendo um pouco de caos todos os dias. E não tem problema nenhum em se sentir assim. Somos seres humanos sociáveis vivendo em um mundo onde socializar é um crime sanitário. É natural se sentir triste, se sentir impotente, frustrado e até culpado por, eventualmente, se sentir feliz por não ter morrido, por não ter perdido ninguém, por não ter perdido o emprego, por não ter perdido a dignidade. Eu mesma, que me considero uma pessoa que enxerga sempre o lado meio cheio do copo, tenho me percebido eventualmente triste, com vontade de chorar ou ficar sozinha. Aí, ao invés de acolher isso e deixar vir, pego o celular ou começo uma série nova, ou me matriculo em algum curso on-line. Fico ocupando meu tempo o tempo todo só para não olhar pra dentro. Isso se chama fuga. Pura e simplesmente. Só que o problema é que nas redes sociais todo mundo é feliz. A impressão que eu tenho é que existe um universo paralelo onde não há pandemia. E aí, à medida em que vou dando rollout na tela, me sinto pior. Só que a vida (a minha, a tua vida) está bem singela que passa através de restritas paredes continua acontecendo, mesmo que não estejamos percebendo. No filme “Soul” – uma animação maravilhosa da Disney - (já deixo a dica para que assistam) o personagem principal passa a vida toda tentando realizar um sonho que faria com que ele fosse finalmente feliz. E essa obsessão o cega de tal forma, que ele não consegue perceber que a vida acontece no hoje, no aqui e no agora.
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