MÃE SEM LIMITE: Finitude

Por Lola Carvalho*

No dicionário, a definição de finitude é a característica, particularidade ou condição do que é finito. Que tem um fim; que pode chegar ao fim. Fato de se apresentar limitado; finito.

O que você faria se soubesse quando vai morrer?

Pense bem. Você não poderia mudar nada, nem fugir, muito menos saber qual seria a causa. Apenas saberia quando.

Será que você viveria de maneira diferente? Se prepararia para a chegada deste momento e organizaria a sua vida para que no fim todos os ciclos tivessem se fechado, todas as mágoas tivessem curado, todos os perdões fossem pedidos e concedidos; todos os boletos fossem pagos, que todos os abraços fossem dados e todos os “eu te amo” fossem ditos?

Pensar na morte é desconfortável. Saber que a vida começa sem pistas de quando termina, me parece muito mais fácil de digerir. Afinal, vivemos todos os dias nos equilibrando em uma corda bamba invisível, a centenas de metros de altura e sem nenhuma proteção, podendo despencar a qualquer momento. Só não sabermos quando.

A única verdade incontestável é que todos vamos morrer um dia. Não importa a raça, o credo, a condição financeira, nem mesmo a nossa saúde, a morte vai nos alcançar e alcançar quem amamos.

Acho que é por isso que eu me identifico tanto com o pensamento da doutrina espírita. A ideia de que a vida não acaba quando morremos, abranda um pouco a aflição que sinto quando penso na morte e na ideia de ver quem eu amo partir.

Pensar que seguiremos em outro plano, em outra dimensão e o melhor, que teremos a possibilidade de reencontrar quem já se foi, é reconfortante.

Mas hoje, eu não saberia lidar com a perda. Mesmo falando para mim mesma centenas de vezes a frase que acabei de escrever acima, repetindo em voz alta diante do espelho, mesmo assim, eu não estaria preparada para me despedir de ninguém que amo.

Depois da tragédia que aconteceu em Capitólio, foi inevitável ficar pensativa no almoço de domingo. Enquanto dividíamos a refeição, fiquei pensando o quanto cada uma das pessoas sentadas à mesa é importante para mim.

Não tem como não se colocar no lugar das pessoas que foram fazer um passeio e perderam a vida de forma tão assustadora e inesperada. Um acidente provocado pela força da natureza; algo totalmente imprevisível e incontrolável.

Não tem como não pensar na dor de quem perdeu alguém lá, de quem presenciou o pior e não pôde fazer nada, de quem conseguiu se salvar, mas jamais será a mesma pessoa depois de tudo isso.

Espero que seja verdade. Que tenha outra vida além dessa. Que quem se foi, seja acolhido onde quer que seja este lugar e possa entender o que houve.

Que aqueles que ficaram, recebam todo o amor e amparo para poder suportar a dor e, quando for possível, encontrar forças para seguir em frente.

Não sabemos quando vamos morrer, mas podemos escolher como vamos viver.

Podemos escolher o que vamos fazer com esta vida que ganhamos, renovada, todos os dias em que abrimos nossos olhos pela manhã.

E por mais clichê que possa parecer, cada dia é uma oportunidade de sermos melhores do que fomos. Uma nova chance para fazer diferente e entender que não controlamos quase nada, além do que sentimos, falamos, pensamos ou a forma como agimos.

Se você deixasse este mundo hoje, como seria lembrado?

*Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo. Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe. Site: lola carvalho.com.br

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