LAURINHA NÃO TEM AUTONOMIA? COMO ASSIM?

Por que é tão importante confiarmos na autonomia e dos pequenos

*Por César Silva

- Mãe! Está querendo me viciar? 

- Como assim, filha? 

- Já te disse que não gosto de dependência. Você quer que eu aprenda a fazer a redação ou não? 

- Claro que quero filha! 

- Então deixa que eu faço! Não precisa me ajudar! Se eu precisar da tua ajuda, eu te chamo! Ok? 

Essa Laurinha não dá trégua para sua mãe. Uma simples lição da escola se transforma em uma discussão sobre autonomia? 

- Essa menina pensa que se governa, pensou a mãe em voz baixa! 

- O que foi que sussurrou aí mãe? 

- Nada demais filha! 

- Pode ir contando! Você quer que eu conte tudo para você então trate de me contar!! 

- Laurinha! Você está passando dos limites!! 

- Como assim mãe!?!? Não posso perguntar o que você falou? Se a regra vale para mim porque não vale para você? 

- Filha! Você é menor e está sob nossa responsabilidade! 

- Mãe! Eu tenho responsabilidade! Vocês me ensinaram isso! Faço minhas tarefas, arrumo as minhas coisas e não dou trabalho para vocês além do necessário! 

- Eu sei filha! Mas tem coisas que precisam esperar! 

- Sim mãe! Tipo o Natal? 

- Não filha! É necessário ter paciência mesmo! Nem sempre podemos receber tudo na hora. 

- Entendi mãe! Mas o que isso tem relação em eu querer fazer a redação e depois você corrigir, se for preciso? 

Uma pergunta mais inteligente do que a outra. Não parecia ter a idade que tinha. De uma certa forma Joana ficava orgulhosa com o espírito de Laurinha e, de outro jeito, suas próprias dificuldades com a coerência e tipo de educação que havia proporcionado a filha. 

Ao mesmo tempo que ela queria ensinar Laurinha a tomar suas decisões com autonomia, ainda havia um longo caminho até que ela pudesse escolher por si só. Eram tempos e velocidade de pensamento diferentes que se chocavam na capacidade da filha em questionar com razões muito fundadas. 

Além da questão da maturidade e das gerações diferentes, o reflexo dos acertos em desenvolver a liberdade de expressão, a capacidade crítica e analítica da filha, com muita inteligência, tinham dado certo. 

A maior dificuldade era acompanhar o seu ritmo, e mais, saber orientar os passos que ainda viriam. Só lembrava das palavras de seu marido: 

- Amor! Sabemos o que precisamos fazer para nossa filha ter capacidade de lidar com esse mundo novo. Mas , precisamos nos reciclar e nos preparar para o que virá dela! 

Essas palavras soavam como uma premonição do marido experiente. Ao mesmo tempo soavam como um tilintar de medo e ansiedade em não dar "conta" do recado. 

- Não deve estar acontecendo somente comigo! 

Essa era a frase que soava em sua mente e que proporcionava um pouco de paz diante de tantos desafios e possibilidades que virão. 

- Mãe! A redação está pronta! Podes dar tua opinião agora! 

- Só tem um detalhe, mãe! 

- Qual filha? 

- Seja sincera comigo! Para que eu possa melhorar! Não quero que você me diga o que quero ouvir e sim o que preciso! 

Tanta jovialidade e maturidade relativa que a mãe nem soube o que responder a Laurinha! Essa Laurinha!!!! Surpreendendo sempre! Instigando sempre! Ensinando e aprendendo sempre!! 

*César Silva é  Escritor, Palestrante, Professor, Consultor  e Mentor de Negócios PMBM®