JORNALISTA LANÇA LIVRO SOBRE A TRAGÉDIA DA ENCHENTE NO RS

Juliano Palinha, de São Leopoldo, apresenta em primeira pessoa o cenário de caos que a comunidade viveu em maio

Maio foi um mês que nunca mais, na sua história, os gaúchos irão esquecer. A tragédia das águas que tomaram conta do Rio Grande do Sul no registro da maior enchente que já atingiu o território vão seguir impressas para sempre.

Cada cidade, cada recanto, tem suas marcas, suas dores que únicas também se transformaram em coletivas. São Leopoldo, no Vale do Sinos, foi uma das cidades mais atingidas com milhares de desabrigados, mortos e desaparecidos. E no meio do caos, o trabalho de um jornalista chamou a atenção da comunidade e virou livro.

O jornalista Juliano Palinha, sócio editor do site e rádio Berlinda, encontrou na escrita uma forma de registrar o que viu e viveu. Agora, quase sete meses depois da tragédia, ele se prepara para o lançamento de Ruas de Água, uma publicação indepedente "As pessoas diziam que eu tinha feito um grande trabalho e precisava registrar isso. Não apenas pelo trabalho em si, mas porque era a história da cidade. Então começaram a falar em livro. Para ficar registrado o que a cidade passou e o que registrei. Pensei e resolvi por no papel", diz o escritor.

Assim, ele resolveu narrar tudo o que viveu - o livro foi escrito em primeira pessoa, e traz relatos de antes da enchente. Depois de uma conversa com o filho Nícolas, que também escreve, resolveram juntos dar início à obra estabelecendo uma estrutura para começar a escrever propriamente depois disso, como sugeriu o filho. "Minha ansiedade não seguiu a dica. Sai escrevendo. Quando ele viu já estava tudo pronto. Deu risada, mas gostou", diz.
Para Palinha, o maior desafio foi relembrar tudo o que ele, particularmente, e amigos passaram, as perdas e a tristeza de lembrar das pessoas pedindo socorro nas madrugadas. Inicialmente, quando começou a caminhar pelas ruas, diz ele, a ideia era fazer o registro jornalístico, mas o apelo das pessoas e o fato de construir um registro o levaram para o livro.

Desse modo, em uma semana, conciliando o trabalho e a vida profissional, nasceu Ruas de Água. "Escrever esse livro é poder registrar tudo que vivemos. Não quis tocar na ferida, pois mais de 70% foi atingida diretamente. Perderam tudo mesmo. Escrever esse livro é também uma forma de não esquecer que precisamos ter um olhar diferente para o planeta. Cada dia mais a natureza nos cobra tudo que fizemos com ela. Invadimos o espaço do rio, ele de certa forma está cobrando. Então precisamos estar atento a situação climática que vivemos", arremata o jornalista. A intenção de Palinha é lançar o livro ainda em 2024.