INTELIGENTE, BONITA, EU? IMAGINA!

- Nossa, que vestido bonito! | Nem é tanto… comprei há tempo em uma liquidação…

- Uau, como você é inteligente! | Nem tanto, só me esforço…

É muito comum ouvir diálogos como estes acima e, mais ainda, talvez seja bem comum que você seja personagem frequente de conversas como estas. Mas, por que será que é tão difícil para algumas pessoas ouvir um elogio, aceitar que, sim, ela é bonita, inteligente? Pois é, nem todo mundo tem a facilidade e a pré-disposição mostrada por muitos em selfies nas redes sociais.

O problema é quando esta limitação, essa incapacidade de aceitar-se elogiado se transforma em fator limitante, trazendo angústia e sofrimento. Para falar mais sobre isso, conversamos com a psicóloga Cris Manfro, que fala sobre o assunto depois de passar, ela mesma, por um processo semelhante. Ela se surpreendeu com a enxurrada de comentários positivos e elogios depois de publicar fotos suas produzidas em estúdio. E estava linda, mesmo!!!

Fator cultural

De acordo com Cris, uma das grandes questões é o fator cultural. Especialmente em algumas regiões, diz ela, as pessoas, no passado, nunca foram acostumadas a receber e aceitar elogios. “Para os pais, elogiar era considerado um mau reforço. Era comum ouvir a frase ‘se elogiar, estraga’, como se isso fosse limitar a pessoa a produzir alguma coisa ou fazer algo bem feito”, afirma a psicóloga. Nesse cenário, diz ela, fica muito difícil e até mesmo constrangedor para a pessoa lidar com algo sobre o qual não aprendeu.

Mas, por outro lado, para a psicóloga, mais do que falar do elogio ou da validação, é importante falar da invalidação, que é quando os pais ou responsáveis, ou qualquer pessoa do círculo, acabam invalidando a pessoa ou suas ações. O bullying é um exemplo disso e faz com que a pessoa se sinta rejeitada, abandonada e alimenta crença de desamores. “Mesmo que ela cresça e seja diferente disso, segue acreditando na imagem negativa, e o elogio soa como um engodo, algo negativo”, completa, ao ressaltar que esse quadro pode atingir qualquer pessoa, independente de gênero ou idade. 

É aí que a psicologia entra e pode transformar o comportamento e as crenças de quem se sente constrangido ou retraído, ou mesmo indigno de reconhecimento por suas qualidades. “Receber um elogio é bom, todo mundo gosta e precisa de validação, por isso a gratitude também é importante, a gente também precisa elogiar”, ressalta Cris. 

Por meio da terapia, a pessoa aprende a atualizar suas emoções e pensamentos e passa a ter atitudes práticas e comportamentos que a levem a chegar o mais próximo de fazer o elogio ter sentido. Quando se veem diante de uma situação de sucesso, positiva, essas pessoas acreditam que foi sorte, ou quando não são bem sucedidas, por não terem estudado para uma prova, por exemplo, acreditam que são burro. “Falta a noção de que o mais importante é o comportamento e não a capacidade”, diz a terapeuta Cris Manfro.

Então, fica aqui a dica. Se você se sente indigno de receber um elogio ou de ter um bom trabalho ou ação reconhecidos, procure um terapeuta, converse, busque se encontrar!