EXAME DE SANGUE DETECTA VOLTA DO CÂNCER DE MAMA

Nova pesquisa representa esperança para vítimas do câncer de mama. Ela pode detectar o retorno da doença oito meses antes da formação do tumor

Depois de meses ou até mesmo anos de luta contra o câncer de mama, descobrir que o tumor voltou a atacar o órgão, ou se espalhou para outros locais do corpo, é o pior medo dos pacientes. Mas esse pesadelo está ficando cada vez mais distante, pois um estudo publicado na revista Science Translational Medicine, feito pelo Institute of Cancer Research e pelo Royal Marsden Hospital, localizados em Londres, na Inglaterra, descobriu que é possível, por meio de um exame de sangue, detectar pedaços do DNA dos tumores na corrente sanguínea, e assim diagnosticar a recidiva do câncer oito meses antes de sua formação.

Esse método é conhecido como biópsia líquida e vai permitir a identificação da recorrência de forma bastante precoce e eficaz. “É possível perceber por meio da amostra de sangue a presença de pedaços de DNA do tumor no organismo. Esses fragmentos são como a impressão digital do câncer. Eles contam tudo sobre a identidade das células malignas e indicam com precisão o tratamento adequado para cada paciente”, afirma Evanius Wiermann, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

TECNOLOGIA PERMITE TRATAMENTO PERSONALIZADO

A partir do resultado do exame de sangue, o paciente poderá receber um tratamento personalizado e individualizado. Essa tecnologia é mais precisa e rápida, além de menos invasiva e já é usada em alguns centros de diagnósticos, inclusive no Brasil. “Como procedimento padrão, os pacientes são orientados a realizar consultas de controle de três e três meses e exames de imagens que são invasivos, para detectar o retorno da doença. Em cerca de 70% dos casos a reincidência é diagnosticada em visitas de rotina, quando os sintomas já estão sendo manifestados. Com esse novo recurso medicinal, os pacientes não terão mais que passar por isso”, afirma Wiermann.

Com essa tecnologia o prognóstico do paciente tem chances de ser melhor e as possibilidades de cura são altas. “A nossa expectativa é de que esse exame revolucione a maneira de acompanhar o paciente e indique tratamentos mais eficazes para o controle da doença. Esperamos que essa técnica seja ampliada para outros tipos de tumores oncológicos também”, analisa Evanius Wiermann.

SOBRE A PESQUISA

O estudo foi conduzido pelo Institute of Cancer Research e pelo Royal Marsden Hospital, localizados em Londres, na Inglaterra. Foram avaliadas 55 mulheres que tiveram câncer de mama em estágio inicial (quando é operável) e não metastático. Todas haviam recebido quimioterapia seguida de cirurgia para retirada do tumor, um tratamento potencialmente curativo.

Ao extrair o material no exame de sangue, os cientistas fizeram a caracterização genética. Todas as pacientes foram monitoradas a cada seis meses, ao longo de dois anos, por meio do exame. A pesquisa constatou que aquelas em cujo plasma havia DNA tumoral tinham 12 vezes mais risco de relapso, comparado aos demais

No período de estudo, o exame de sangue identificou com precisão o material genético circulante em 12 das 15 pacientes que acabaram sofrendo recidiva do câncer. Esse resultado foi descoberto cerca de oito meses antes que os métodos de imagem tradicionais pudessem diagnosticar o retorno do sangue.

Quando os cientistas compararam o DNA das novas células malignas ao do tumor extraído logo no início, foi verificado que elas já tinham um perfil genético diferente, evidenciando a necessidade de combatê-las com outros tipos de medicamento adequados às novas características.

As pacientes que estão participando da pesquisa continuarão a ser monitoradas porque, muitas vezes, o câncer de mama retorna apenas depois de muitos anos, até uma década depois do tratamento. Dessa forma, será possível verificar se a abordagem também é eficaz na detecção de recidiva tardia.