ELA ESCOLHEU SER ELA MESMA! E DAÍ? INCOMODA?

A força que queremos ter já está em nós, basta alimentá-la e aceitá-la. Veja o exemplo de Valentina

Por César Silva*

Valentina era uma mulher de fibra. Desde a sua infância suas escolhas eram diferentes e não deixava ninguém sem resposta. Mesmo quando eram respostas duras, que geravam represálias, ela aguentava o tranco. Uma vitoriosa!

A mãe dizia que a escolha do seu nome tinha sido dela. O pai dizia que a mãe estava certa! E ela adorava seu nome, parecia algo que abria mares revoltos e contidos. Sentia que o mundo era seu quintal e a sua alma livre não admitia nenhuma restrição além dos limites normais da vida, que ela questionava sempre!

Tinha 25 anos, formada em design, pós-graduada em design de experiência, fluente em 3 línguas, inteligentíssima, guerreira e perspicaz. Estava sempre em busca de conhecimento! Queria Mestrado, Douturado, Phd e se der, um pouco mais...

Era como se soubesse, desde sempre, o seu lugar no mundo e se postava assim, confiante. Pé firme, caminhada bamboleante e olhar profundo, uma deusa! Admirada por uns, odiada por outros! Quando a perguntavam se ela não se incomodava com seus percing´s e tatoagens ela respondia na lata: doeu em você? Não? Então é problema meu!

Apesar da firmeza de posições nunca fora uma pessoa deseducada ou desrespeitosa. Acreditava firmemente que os valores eram fundamentais em sua vida, mas não aceitava que ninguém dissesse o que ela deveria fazer.

Ela escutava quem a abordava com sabedoria, conhecimento e educação e revia posicionamentos, de vez em quando, mas tinha o "passo certo": sabia onde queria chegar.

A escolha desafiadora

Ela era profissional liberal, trabalhava on-line e prestava serviço a várias empresas do Brasil e exterior. Apesar de não ter muitas experiências em empresas como funcionária, seu talento ia além da simples carteira de trabalho.

Recebera um convite inesperado: uma grande empresa de tecnologia, mundial, com sede nos Estados Unidos, queria comprar seu passe. Vem trabalhar conosco!

Em resumo: ela largaria seu trabalho e se dedicaria a algo maior, sem limites, mas seria uma funcionária, seguiria regras e poderia expandir seu potencial com o foco da empresa.

Foi a primeira vez na vida que Valentina titubeou. Ela sabia muito bem o que queria e ao mesmo tempo via em sua frente a possibilidade de mostrar seu trabalho ao mundo de forma muito mais forte.

Seu coração palpitava e as suas crenças berravam em seu coração e mente: faz o que você quiser, não precisa pedir permissão a ninguém! Aquela frase martelava em sua mente, mas de alguma forma, pela primeira vez, ela não se sentiu segura.

Lições seguras

Lembrou das lições de humildade que seu avô materno contava através das suas histórias. Ela lembrou de um dia em que ele contou que não tinha o que comer em casa. E que, apesar disso, foi em busca de trabalho e voltou para casa com a comida.

Ele dizia que o orgulho não enchia a panela e que se algum dia eu tivesse que escolher, que ficasse com meus valores e buscasse algo honesto para resolver qualquer problema na vida. Ela lembrava daquele dia como se fosse aquele momento. Lembrava das palavras, das feições, de tudo!

Foi tomar banho, descansar, depois de um dia de muito trabalho e começou a pensar e analisar sua vida. De tanto pensar, dormiu no meio da reflexão.

No outro dia de manhã ela acordou com uma ideia, bem madura: vou escutar muito atenta as opiniões de quem me entende. Ela sabia que o peso de suas escolhas cairiam sobre seus ombros e não fugia disso nunca! Era um pessoa responsável do seu jeitinho maroto de ser!

Essas mães...

Foi até sua antiga residência, ela morava sozinha desde os 18 anos. Chegando lá, sua mãe a abraçou fortemente e disse que estava feliz em vê-la. 

- Mãe! Amo você! Não sabe o que me aconteceu!

- O que foi filha?

- Estou em dúvida! Me ofereceram um trabalho muito legal e que não deixa de ser algo que eu não quisesse fazer, mas terei que abrir mão de minha liberdade total de escolher meus destinos.

A mãe sorriu, disse que ia preparar um chá e logo retornou:

- Filha, desde quando alguém tem esse poder, além de você?

- Ela olhou e disse: mas se for para lá vão me cercear!

- Minha filha, vão cercear o que, se você é livre para pensar e aprender o que quiser?

- Como assim?

- Em qualquer experiência na vida sempre temos as rédeas de escolher o que nos cabe ou não. As experiências boas e ruins somente validam ou não o que pensamos. Basta escolhermos não nos corromper, que está tudo bem!

- Mãe! Amo você!

Continuaram a conversar aquele dia todo e Valentina foi para casa sem uma resposta ou validação de sua mãe. Ela entendeu que a responsabilidade era dela. O que será que aconteceu?

Valentina aceitou o convite, aprendeu muito, cresceu como profissional e descobriu que era melhor do que imaginava ser. Ela pensou:

- Não vou perder uma oportunidade de viver o melhor por orgulho, pois no final das contas, quem decide sou eu! Estava sendo quem ela melhor sabia ser: ela mesma!

César Silva é professor, escritor, consultor, mentor - Head of Business @cesarsilvasimplesmente, Professor/Tutor Externo IERGS/Uniasselvi, Conselheiro da Fenac S.A.