Pode ser que o mundo demore muito a esquecer a imagem do pequeno Aylan Kurdi, o menino encontrado morto na Turquia ao tentar atravessar o Mediterrâneo com a família síria, refugiada. E se depender da escritora Andreia Schefer, esta história será relembrada incontáveis vezes como inspiração para seu primeiro livro. Ela acaba de lançar, de forma independente, Para Onde Vão as Borboletas à Noite e que será o foco do debate do próximo encontro do Leia Mulheres Novo Hamburgo.
É a história de Nagib, de 12 anos, e seu melhor amigo Samir, personagens desta narrativa que traz o drama dos refugiados sírios a partir do ponto de vista do menino. "Desde que comecei acompanhar o drama dos refugiados sírios, esse tema passou a chamar a minha atenção. A foto de Aylan Kurdi chocou-me a ponto de querer saber mais sobre a saga dessas pessoas e escrever sobre elas", comenta a autora de 40 anos, que é professora de Literatura e Lingua Portuguesa, em Novo Hamburgo (RS), cidade onde nasceu.
O título do livro, diz ela, surgiu de uma conversa de família. "Observando as borboletas no pátio de casa, meu marido perguntou: para onde será que as borboletas vão à noite? Comentei que esse seria um bom título para meu livro, já que a história das borboletas monarcas é parecida com a dos refugiados", explica.
Assim, a pesquisa sobre a cultura síria e a atualização sobre a política e a vida naquela região, juntou-se também à curiosidade e investigação sobre o ciclo das borboletas. Andréia percebeu que a metáfora das borboletas encaixava-se perfeitamente ao enredo do romance. "Li muitos livros que retratam a cultura síria, mas a minha maior fonte de pesquisa foram reportagens sobre a guerra. Também pesquisei sobre conflitos ocorridos em outros tempos naquele lugar e a situação política nos dias atuais", completa.
Para escrever do ponto de vista de uma criança, a escritora fez um exercício interessante, de volta à própria infância e às experiências vividas em família, embora ela não tenha nenhum vínculo ou descendência com o povo sírio. "O que mais me cativou é sua capacidade de contar uma história de cenas tão fortes e, por vezes, cruéis, de forma tão límpida, com uma linguagem que não impõe entraves à compreensão dos leitores. Eis a mágica da Literatura e o ofício do bom escritor: cativar o leitor pelo artesanato da Criação Literária para que ele ouça o que precisa ser dito - e o romance de Andreia Schefer tem muito a dizer", diz o escritor Robertson Frizero, que assina a apresentação do livro.
Com esta obra de estreia, a autora espera que, por meio da empatia, o leitor entenda o drama dos refugiados, de quem é obrigado a deixar tudo para trás pra sobreviver. "Que consigam se colocar no lugar das crianças que perdem o direito à infância, lutando contra a morte o tempo todo", destaca Andreia.
E em meio a esta proposta, a escritora também comemora o fato de estar entre os escolhidos para o Leia Mulheres Novo Hamburgo. Para ela, é fundamental ser reconhecida em um espaço em que a literatura feminina ganha um novo significado. O livro deve ser lançado em evento tão logo o fim da pandemia permita e pode ser adquirido na Amazon na Livraria Urso Polar ou com a autora, pelo telefone 51 99244-6664.