DICA DE LIVRO: O QUE ALICE ESQUECEU, E O QUE NÓS DEVEMOS LEMBRAR

Narrativa de Liane Moriarty apresenta proposta de reflexão e a possibilidade de mudarmos o futuro

Por Aline de Melo Pires - Jornalista*

Comecei a ler este romance por pura curiosidade. Um livro que vejo com muita frequência em resenhas de blogs e canais do YouTube que falam sobre literatura, caiu nas minhas mãos. A autora, Liane Moriarty, ganhou projeção internacional depois que um de seus trabalhos foi adaptado para uma série de TV, em um canal pago. Não sou muito adepta de ler mais de um livro ao mesmo tempo. Gosto de me aprofundar em uma leitura e ir até o fim. Mas, enquanto lia Sapiens, pensei em intercalar com uma leitura "leve". E eu tenho de parar de pensar que o que eu chamo de leitura leve não vai ficar em minha cabeça dias depois de concluída me fazendo refletir uma série de coisas. O Que Alice Esqueceu (Editora Intrínseca) nos traz de volta aquilo que fomos, ou podíamos ter sido, de forma gostosa, com um humor. 

Um dia, Alice cai na academia, bate fortemente a cabeça e, quando acorda, não consegue lembrar de absolutamente nada do que aconteceu em sua vida nos últimos dez anos. Isso mesmo. Uma década completamente apagada. Ela pensa que ainda está grávida do primeiro filho (nem lembra que é mãe de 3 crianças), que não está se divorciando e que não briga com o agora ex-marido na justiça pela guarda das crianças. Alice também não lembra por que ela e sua irmã, Elisabeth, se afastaram. Ou seja, ela não se reconhece, alguns flashes a assombram, mas ela pouco entende. 

Interessante perceber que a história de Alice, especialmente a história que Alice esqueceu, pode tocar fundo no leitor. Creio que todos somos um pouco Alice. De repente, mesmo sem bater fortemente a cabeça, esquecemos de quem somos, e a nossa essência, lá no fundo, nos chama de volta. A protagonista deste livro questiona a si mesmo no presente, sem entender, num primeiro momento o que houve com a Alice de uma década atrás. Como ela se afastou da irmã? Como ela e o grande amor de sua vida passaram a travar uma batalha marcada pelo ódio? Será que dá para reverter isso tudo? Será possível reconquistar o que ficou pelo caminho? 

Um aspecto interessante deste livro é a participação de Elisabeth, a irmã de Alice. O relato dela acontece em primeira pessoa, como fragmentos de um diário. Outro destaque é para a doce Franie, a avó de Alice e Elisabeth que vive em uma casa de idosos e mantém um blog, com muitos acessos e comentários na Internet, relatos que emocionam por fazer encarar a possibilidade da morte e, ao mesmo tempo, a oportunidade de viver intensamente. Recomendo.