DICA DE LEITURA | Vox: uma distopia assustadora que expõe consequências terríveis de regimes ditatoriaisObra de Christina Dalcher fala da horrível realidade em que mulheres são proibidas de ler, escrever, trabalhar e… de falarPor Aline de Melo Pires* Já parou para pensar no que poderia acontecer se as mulheres fossem proibidas de proferir mais de 100 palavras por dia sob o risco de sofrerem até quase morrerem? Este é o mote de uma das distopias mais assustadoras que já li. Vox, de Christina Dalcher, da Editora Arqueiro, leva o leitor a um país em que a proibição de mais de 100 palavras diárias às mulheres é só o começo de uma série de imposições e cortes de liberdade no que se refere ao exercício do ser feminino. As mulheres são impedidas de trabalhar, as meninas não aprendem mais a ler e a escrever. Antes das imposições, cada pessoa falava, em média, 16 mil palavras por dia. O que fazer, ou dizer, com 10? A narrativa traz como fio condutor a história da doutora Jean McClellan, cientista especializada em neurolinguística, uma profissional de competência e talento reconhecidíssimos e super respeitada em seu meio, mas que também foi silenciada pelo sistema. Até que ela recebe alguns direitos e benefícios de volta quando o governo percebe que ela é uma das poucas profissionais que podem ajudar a resolver um sério problema para os dirigentes daquele país que passou a perseguir implacavelmente homossexuais, intelectuais, mulheres e minorias, enfim todos aqueles que deixam de ser considerados “Puros”. Assim, Jean passa a lutar pelas mulheres silenciadas, por sua filha e por si mesma. Ao ser obrigada a integrar uma equipe de cientistas para desenvolver uma nova substância - a princípio para um tratamento - ela se vê, de repente diante do que pode ser um ato de terrorismo extremo. A narrativa em primeira pessoa é um dos aspectos mais positivos do livro o que nos deixa mais próximos da Dra. Jean e nos conecta mais rapidamente com suas sensações e sentimentos. A história pessoal da protagonista é um arco interessante porque nos faz conhecer sua juventude quando sua maior preocupação era concluir seus estudos, constituir família e quase não tinha posicionamento político. De repente, ao ver seus direitos tolhidos, sua liberdade e sua vida ameaçadas, ela entende que poderia ter lutado também. Em meio a tudo isso, Jean precisa organizar seus sentimentos, seus relacionamentos. A autora coloca a história descrita em Vox em uma lente bem aumentada da realidade, mas nos faz entender que é preciso seguir alerta, entender e defender sua liberdade e seus direitos. E, mais do que nunca, acreditar em sua intuição. Recomendo a leitura. *Jornalista - Diretora de Conteúdo do Portal Temas Preferidos Publicidade Publicidade |