DICA DE LEITURA: HARUKI MURAKAMI, COMECE PELO COMEÇO

Por Aline de Melo Pires - Jornalista*

Quando um autor é consagrado, quando muitas de suas obras são aclamadas ao mesmo tempo, é comum que haja dúvidas quanto ao que ler para começar a conhecer seu trabalho. Podemos dizer o mesmo do japonês Haruki Murakami. Atualmente, é um dos autores contemporâneos mais lidos e comentados. Ok, não é unanimidade, logicamente, mas tem muita gente curtindo o trabalho desse cara que está na estrada há mais de três décadas e que somente nos últimos anos parece ter conquistado leitores por aqui. 

O fato é que, voltando ao início desse texto, se alguém me questionar: "por onde começo a ler Haruki Murakami?". Eu direi: do começo. A obra do japonês é marcada pelo realismo fantástico, por distopias, por enredos abertos e isso é muito interessante. Alguns elementos são recorrentes em várias de suas obras, assim como alguns personagens e "começar do começo" pode fazer com que isso seja absorvido melhor. É lógico que não é uma regra e claro que começar a ler esse autor por sua obra mais recente não vai causar nenhum dano. Eu mesma não fiz isso, li talvez uns cinco livros de Murakami até chegar no primeiro: Ouça a Canção do Vento - Pinball 1973. 

Este foi o primeiro romance do escritor, a primeira de uma série de histórias que seriam pontuadas pelo existencialismo e pelos elementos que o acompanhariam décadas mais tarde. É a história de um estudante de biologia que busca se conhecer, se descobre, se questiona e cumpre um dos papeis mais nobres incríveis dos personagens criados pela literatura: é empático. Difícil não se identificar e não parar para pensar que somos um pouco dele. São duas histórias, na verdade, em que o realismo fantástico, tão presente, como os gatos e poços... de um modo geral, na obra de Murakami faz uma visita de leve.

Não sei se em algum momento você já se deparou com algum livro de Murakami, mas de qualquer forma, ainda que não seja Ouça a Canção do Vento, pegue. Abra e leia. Ler Murakami é entrar em um mundo incrível, uma escrita fluida, por vezes confusa, confesso. Mas, não desista. Começar do começo é apenas uma sugestão. Eu mesma conheci o japa por acaso e desde então - você pode conferir aqui - tenho lido tudo o que posso produzido por ele.  

A leitura desse livro, que tem uma edição linda da Alfaguara, e foge do design de seus outros livros editados por esta casa, possibilita, ainda, conhecer o início do processo criativo do escritor. Mas, para quem quiser saber mais sobre isso em especial, recomendo Romancista Como Vocação, um relato be peculiar sobre a relação dele com o ato de escrever.

*Editora do Temas Preferidos