DICA DE LEITURA | Esperando Bojangles“Os médicos tinham nos explicado que era preciso protegê-la contra ela mesma para proteger os outros. Papai me dissera que só mesmo os médicos que cuidam de cabeça para dizer uma frase dessas”Por Aline de Melo Pires* A indicação de conteúdo e descoberta de trabalhos e autores que eu nem sonhava existir é a grande função das redes sociais. Tão amaldiçoadas e objetos de preconceito e crítica, tenho minhas ressalvas quando se trata de afirmar que rolar o dedo pelo feed só tem consequências ruins. Não. Como tudo na vida, quando se tem equilíbrio e boas conexões, as boas descobertas acontecem. É assim, no meu caso, quando se trata de livros, filmes ou séries. E não foi diferente quando me deparei com esta indicação da escritora Martha Medeiros. Em sua habitual lista de leituras do mês, ela indicou o breve Esperando Bojangles (Editora Autêntica Contemporânea, 128 páginas). Primeiro, me chamou a atenção esta capa linda. Em seguida a orientação: “para ler escutando Nina Simone”. Procurei saber mais sobre a obra do francês Olivier Bourdeaut e me encantei já na sinopse. É uma das mais lindas histórias de amor e família que já li em minha vida e me deixou enternecida. A narrativa aborda a loucura de uma maneira leve, mas que toca fundo e nos faz pensar. Pensar na vida, no que temos e principalmente em quem temos. Esperando Bojangles tem como narrador uma criança que observa o amor entre seus pais, Georges e Camille, suas paixões pela arte, cultura, pela reunião constante de amigos em sua casa e da dança, sempre embalada pela canção preferida de sua mãe; Mr Bojangles, da incrível Nina Simone. Uma família diferente do tradicional, uma criança que aprende e estuda de maneira distinta dos seus pares, pois seus pais decidem educá-lo em casa, e a arte, a história e a cultura, de modo geral, são as ferramentas que constroem sua personalidade. Os hábitos estranhos do menino acabaram por despertar desconfiança em sua professora e foi assim que ele deixou a escola para ser educado em casa, sorvendo cada momento ao lado de seus pais. Temos o pequeno a contar a história de sua vida e a forma lúdica como ele narra nos encanta e em nada foge do que se propõe a ser a realidade da narrativa. O casal George e Camille é diferente, e o comportamento dela comprova isso a cada página, tanto que é inevitável mandá-la para uma clínica para tratamento da saúde mental. A vida é uma eterna festa, tudo é motivo para dançar e rir, rir muito. A insanidade é tratada aqui de maneira leve, delicada, a partir da visão do menino. Mas também temos um outro viés, por vezes o texto que se apresenta é a visão de Georges, o pai, e a união desses dois pontos de vista é um ingrediente encantador. Esperando Bojangles é daqueles títulos que recomendo mil vezes e certamente voltarei a ler. E vale muito mesmo a dica da Martha Medeiros, ouça escutando Nina Simone, não somente a canção que embala a narrativa (que conta uma história linda e triste), vale ouvir sempre sua vasta obra. Agora, me preparo para conferir Esperando Bojangles na tela grande. Coincidência ou não, a adaptação está na programação do Festival Varilux de Cinema Francês e no próximo dia 15 estarei na Cinemateca Paulo Amorim, em Porto Alegre, com o ingresso na mão.
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