DICA DE LEITURA | Como se Fosse Um Monstro

Segundo livro de Fabiane Guimarães toca em assuntos delicados, maternidade e barriga de aluguel, mas sobretudo nas dores de ser humano

Por Aline de Melo Pires*

Hoje, 1º de maio, é Dia da Literatura Brasileira. E quero falar aqui de uma escritora que estou descobrindo e amando. Ano passado li o primeiro livro de Fabiane Guimarães, Apague a Luz Se For Chorar. Gostei muito, do texto, da história. Passei a acompanhá-la pelas redes sociais e vi que logo outro livro sairia. E saiu! E fico contente quando, ao pensar em literatura brasileira, vejo que vivemos "uma safra boa", especialmente de mulheres. Tem muita mulher bacana escrevendo! Fabiane Guimarães é uma delas.


Antes de começar a ler Como Se Fosse Um Monstro, que sai pela Editora Alfaguara,** eu sabia que a história falava de maternidade e de barriga de aluguel. Criei algumas expectativas em relação à narrativa, mas durante a leitura fui surpreendida e aquela ideia que eu tinha inicialmente seguiu por outro caminho tão ou mais impactante do que eu imaginava. Apesar de rápida, a leitura é intensa, num ritmo que prende.


Ambientado na Brasília da década de 1990, o livro apresenta a trajetória de Damiana que ainda bem jovem, sem instrução e preocupada em ajudar a sustentar a mãe, principalmente quando ela fica muito doente, e as irmãs, com a ajuda de uma prima “descolada” vai trabalhar como empregada doméstica para um casal muito rico, saindo do interior.


Ela percebe uma movimentação estranha na casa onde foi contratada de moças que entram e saem a todo instante para entrevistas e, por alguns momentos, chega a desconfiar que seu emprego pode estar ameaçado. Mas, nada disso, a proposta que as outras receberam chega para a jovem Damiana: gerar um bebê para o casal cuja mulher é infértil.


Influenciada pela prima, e mais ainda pela promessa de ganhar muito dinheiro e ajudar a mãe que se encontra em estado muito delicado, Damiana aceita a proposta. E a partir daí ela descobre um verdadeiro talento para gerar crianças para casais que não podem, por inúmeras razões. O negócio fica tão profissional que Damiana entra em uma sociedade e ao lado de Moreno participa de um esquema que ela denominaria anos mais tarde de rede de ajuda a quem quer muito um filho e não pode ter, ou para quem pode e não quer ter.


Paralelamente, temos Gabriela, a jovem jornalista que nos conta a história de Damiana mas que é uma personagem muito peculiar nesse contexto criado por Fabiane Guimarães. Ela vai em busca da já idosa dona da barriga de aluguel para contar em um livro-reportagem a trajetória da mulher que passou a maior parte de sua vida grávida para garantir uma vida relativamente confortável. Será?


Os dramas pessoais da jornalista também ganham nuances fortes à medida em que a história de Damiana é contada e eu fui impactada pela narrativa ao constatar que Como Se Fosse Um Monstro fala sobretudo das dores de ser humano para além das dúvidas, questionamentos ou medos relacionados à maternidade. É um daqueles livros que nos permitem exercitar o existir.


O livro de Fabiane traz à tona questões sobre o conceito de família e de amor e de como pensar sobre isso se faz cada vez mais urgente. Recomendo.


*Jornalista e diretora de Conteúdo do Portal Temas Preferidos

** Agradecemos à Editora Alfaguara pelo envio do exemplar de Como Se Fosse Um Monstro


** Leitores da região de Novo Hamburgo encontram este livro, e muito mais, na Livraria Letras & Cia, parceira deste espaço

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