Temas Preferidos

24 de Junho, 2021
|
Dicas TP
|
Livros
|

De volta a Nápoles, uma viagem pelas descobertas de uma menina que retrata a dualidade do ser humano. Às vezes, as coisas não são como imaginamos

A força das personagens se apresenta especialmente na figura da tia Vittoria, que se torna uma peça fundamental para a evolução, questionamentos e crescimento de Giovanna

Por Aline de Melo Pires*

Um dos livros que marcaram este primeiro semestre foi A Vida Mentirosa dos Adultos, da Elena Ferrante, (Editora Intrínseca, 432 páginas). Lembro que “devorei” em três dias. A escritora italiana me conquistou de vez com sua “tetralogia napolitana”, ainda em 2020, quando consegui ler os quatro volumes ao longo do ano. Embora eu já tenha lido outros romances da autora, como A Filha Perdida e Dias de Abandono, foi com a tetralogia que entrei realmente no universo Ferrante.

O novo livro, A Vida Mentirosa dos Adultos, nos leva novamente a Nápoles, o cenário em que Elena Ferrante constrói personagens incríveis marcados pela dualidade, pelo bem e pelo mal, pela verdade e pela mentira.

Tudo começa quando a protagonista Giovanna, de 12 anos, escuta o pai dizer à sua mãe que ela está ficando “feia igual a Vittoria”, a tia que Giovanna não conhece e com quem o pai evita qualquer tipo de contato, uma relação marcada por mágoas e ressentimentos. Extremamente magoada e triste com a declaração do pai, Giovanna inicia uma jornada que vai muito além de simplesmente conhecer aquela tia que tanto asco e repulsa provoca em seu pai e com quem foi comparada. O livro traz, de forma muito intensa, a transição para a adolescência e todas as suas turbulências, como as relações de amizade com os pais e a descoberta da sexualidade. Giovanna começa a perceber que sua vida e as pessoas que a rodeiam, especialmente os pais, um casal de professores acadêmicos, e muito cultos, não são exatamente o que ela acreditava, até então, serem.

E a gente embarca nessa jornada da garota até, mais ou menos, seus 15 anos. A força das personagens se apresenta especialmente na figura da tia Vittoria, que se torna uma peça fundamental para a evolução, questionamentos e crescimento de Giovanna.

É impossível não fazer comparações com a tetralogia napolitana, mas isso não é um ponto negativo, pelo contrário, ajuda o leitor a fazer algumas conexões importantes na obra de Ferrante, e também contribui para a construção de uma posição crítica. Há especulações de que este livro deve virar uma série para streaming e também já ouvi que pode haver até uma continuação. Até acredito, e torço por isso, já que o final fica, de certa forma, aberto. Ou seja, a vida e as descobertas de Giovanna podem nos render ainda excelentes histórias. Recomendo. Boa leitura!