DICA DE LEITURA: A URUGUAIA E O PREÇO DA BUSCA PELA FELICIDADE

Por Aline Pires*

Sextando... e a dica é uma leitura para acabar em um final de semana. Acabei de ler A Uruguaia, editado pela Todavia, do argentino Pedro Mairal, livro que foi muito bem recomendado por muita gente bacana que ama a literatura e que eu respeito muito. Já estava na minha lista havia um tempo e consumi em um só fôlego, não somente por que se trata de um livro curto, 123 páginas, mas também pelo ritmo da leitura, e por que não sosseguei enquanto não descobri o que aconteceria com nosso protagonista, o escritor Lucas Pereyra, na faixa dos 40 anos. 

Em meio a uma crise no casamento, somada a uma forte crise existencial, parte em busca de uma paixão. Vai de Buenos Aires para Montevidéu atrás de uma jovem que conheceu em um festival literário e com quem passou a se corresponder com frequência. Ele aproveita que precisa ir ao Uruguai para sacar uma grande quantia em dinheiro por conta do adiantamento para escrever dois livros.

A fim de driblar as oscilações cambiais, ele prefere cruzar o Rio da Prata para sacar, em espécie, 15 mil dólares, depositados a partir de contas na Europa. Tudo perfeito, a partir da análise de Lucas. O dinheiro lhe dará fôlego para trabalhar, concentrar-se na sua escrita por muitos meses, além de saldar dívidas. E ainda por cima, a possibilidade de passar um dia inteiro com sua paixão, tão jovem, tão cheia de vida e de energia.

Toda a narrativa de Mairal se desenrola em um só dia. Apesar disso, e de ser um livro curto, o protagonista tem flashbacks que situam super bem o leitor, e a forma como o texto é construído prende, até o final.
Enquanto o dia de Lucas Pereyra acontece, ele faz uma restrospectiva de sua vida, e o próprio livro é uma espécie de carta à sua esposa, numa tentativa de explicar suas atitudes e justificar suas consequências.

Crises conjugais, traições, vingança, tudo isso é recheio de A Uruguaia e coloca o leitor no lugar do protagonista quando tudo o que ele quer é ser feliz. Livre. Mas a que preço? E, no fim, o que fica e o que vale a pena?
A literatura nos permite refletir sobre tudo isso, quase a ponto de nos fazer julgar o personagem. Mas, o que fazemos, ao fim das contas, é julgar a nós mesmos ou as escolhas que poderíamos ter feito em algum momento de nossas vidas. Até que um personagem vai lá e faz. E damos graças por não sermos nós.

*Jornalista - Diretora de Conteúdo do Portal Temas Preferidos