DICA DE FILME: NINA

Um pouco da vida da artista que marcou época e mais do que talento ecoou a defesa dos direitos civis dos negros americanos, Nina Simone

Por Aline de Melo Pires*


Pouco ouvi, até hoje, da obra da pianista e cantora Nina Simone (1933-2003), que transitou por estilos apaixonantes como jazz e soul. Também li pouco sobre seu trabalho e quase nada de sua vida. Ouvia e lia referências aqui e ali, mas nunca havia me debruçado, de fato, sobre sua trajetória. Até que o serviço de streaming de filmes me “sugeriu” Nina - que tem a atriz Zoe Saldaña no papel da protagonista. Coloquei na lista e demorei muito para dar o play. Foi na noite deste domingo que me deparei com uma história que deixava transparecer na tela uma mulher tão marcada pela dor e pelo racismo quanto pelo talento.


Nina Simone foi um fenômeno, algo fora da curva, com voz e habilidades quase incomuns. Foi um grande nome no grito pelos direitos civis dos negros norte-americanos. Mas também foi um poço de tristeza e, talvez por conta disso, vítima do câncer de mama.


Se pararmos para pensar e analisar suas letras, encontraremos eco em dores, dúvidas e sentimentos que são comuns a muitas, muitas pessoas, independente da época em que vivem ou da origem. No caso de Nina Simone, ela usou o talento para espelhar essas dores, com letras fortes e uma música que chega na alma. Ela se destacou no seu tempo para fazer de sua luta, a luta de todos os negros.


Em seu concerto de estreia, aos 12 anos, disse que só se apresentaria se seus pais pudessem estar na primeira fila, o que gerou revolta e a ausência de alguns brancos. Este episódio é o que abre o filme e foi determinante para que durante toda a sua vida, a menina, cujo nome de batismo era Eunice Kathleen Waymon, desenvolvesse uma grande força na luta contra a desigualdade racial.


Penso que alguns pontos do filme poderiam ser mais desenvolvidos, porque geram curiosidade, como o fato de ela ter tido uma filha, e pouco se sabe dela nesta obra. A violência doméstica também é abordada, ainda que de forma muito rápida. Dá a entender que o marido, de quem ela viria a se separar e pai de sua filha, era agressivo com ela.


Bem, do pouco que vi e ouvi no filme, fica a sensação do quanto doenças mentais como depressão ou bipolaridade podem fazer um estrago ainda maior do que se pode constatar, quando olhamos de fora, muitas vezes não temos a mínima ideia do que os doentes passam, ainda que tudo vire letras lindas e profundas de músicas de gente extremamente talentosa. Por isso, eu recomendo, mais do que ouvir Nina Simone, procure ler e saber mais sobre sua vida. Eu, com certeza, irei além do filme. Assista ao trailer, e confira, em seguida, uma das mais belas canções já compostas, Nina canta Feeling Good. Clássico. Assisti no Telecine Play.



*Jornalista - Diretora de Conteúdo Portal Temas Preferidos