Por Aline de Melo Pires
Ela poderia ilustrar o dia das mães, o dia do professor, o dia do amigo, o dia do jornalista... Por isso, a Ana Fritsch é a nossa personagem do Dia da Mulher. Uma pessoa incrível, com uma história imensa de amor e afeto. Consultora de moda e fortemente atuante no cenário gaúcho do jornalismo, ela carrega em si uma força e determinação que é exemplo e por isso parte de sua história precisa ser contada aqui. Quando a conheci, passamos, de cara seis dias juntas, o suficiente para enxergar e entender a grande mulher que estava diante de mim. Foi durante um evento de moda que pude conhecer a profissional competente e comprometida e, depois, em bate-papos, e happy hour, a mulher apaixonada pelo marido e com o coração imenso repleto de amor esperando a maternidade acontecer. Isso há mais de dez anos. A maternidade chegou sim. Não daquela maneira convencional, não era a barriga da Ana que crescia, eram os corações dela e do Alexandre que cada vez mais se preparavam e se abasteciam de tanto amor que a Alice levou dez anos para chegar. Mas, se por um lado a natureza privou a Ana de ver sua barriga crescer, não privou de um dos atos mais nobres de uma mulher: amamentar. Sim, a Ana amamenta, até hoje, a Alice tem um aninho e recebe o leite da Ana. Por isso, e por tudo o mais que esta mulher representa, a escolhemos para homenagear cada mulher neste mês de março. Dona do site anafritsch.com e editora do Jornal do Comércio, ela conta aqui parte de sua rotina e de sua visão acerca da data e da condição feminina atual.
Temas Preferidos - Quando se trata da data, especificamente, Dia da Mulher, o que lhe vem à mente?
Ana Fritsch - Infelizmente, a gente ainda tem que comemorar o Dia da Mulher. O ideal mesmo seria a gente não ter que comemorar essa data porque no momento em que você celebra alguma coisa assim, você mostra uma certa diferença ou inferioridade, então, a primeira coisa que me vem à mente é "que pena que a gente ainda tem que comemorar o Dia da Mulher". Por outro lado, que bom que, então, a gente comemora, para sublinhar a importância do nosso papel na sociedade em todas as esferas. Eu sempre brinco, no dia em que as mulheres realmente tiverem ideia do poder que elas realmente têm, elas tomam conta do mundo. Nós ainda somos pouco representadas e esse dia serve para gente realmente frisar isso e dizer "estamos aqui, viu, somos poderosas e merecemos espaço, como seres humanos".
TP - Muito se fala hoje de empoderamento feminino, de liberdade e igualdade. O que você pensa disso, como funcionam esses conceitos particularmente na sua vida?
AF - Essa questão de empoderamento está vindo muito forte, mas a gente ainda está muito longe de uma igualdade de gênero, tem um caminho muito grande ainda a trilhar. Na minha vida, agora com a chegada da Alice, principalmente, é minha missão batalhar por isso, mostrar a ela que nós somos poderosas, precisamos buscar essa liberdade e essa igualdade, é o que eu quero trabalhar para que minha filha tenha. Esse conceito fica ainda mais forte, agora que tenho a Alice.
TP - Ainda sobre os conceitos acima, quanto você acha que ainda falta avançar? Ou não é preciso conquistar mais?
AF - Muito, muito, porque pra começar, "comemorar o dia da mulher" , tem um caminho longo, a gente tem que provar muita coisa. Mas eu acho que a gente está avançando. Cada vez se fala mais, entao o empoderamento feminino é uma coisa relativamente nova, a gente vem conquistando isso.
TP - Você acredita que a moda, os conceitos e tendências apresentados atualmente acompanham essa evolução feminina, essa busca pela afirmação e igualdade? Em que sentido?
AF - Sim, cada vez mais. O uso do tênis, a democracia do tênis, de quatro ou cinco estações para cá, nas passarelas e no nosso dia a dia, mostra que a gente não precisa subir no salto alto para se igualar aos homens. A modelagem cada vez mais ampla, a liberdade de escolha, a moda democrática, mantendo, sim, a questão do salto alto, do vestido envelope, porque a moda respeita todos os estilos. Então, os conceitos estão acompanhando a evolução feminina sim, e se a gente for prestar bem atenção na moda, os conceitos e tendências acompanham a evolução feminina principalmente na moda feita por mulheres. Os estilistas homens tendem a ir para o outro lado, geralmente fazem uma moda mais sensual, decotada, mais justa. Mas, principalmente a moda feita por mulheres e para mulheres, tem acompanhado bastante a evolução.
TP - Você acredita que a mulher contemporânea "paga um preço" pela liberdade que tanto almejou tendo por exemplo que cumprir dupla jornada, quando o trabalho em casa exige sua presença, ou ainda tendo que se reafirmar constantemente no mercado de trabalho?
AF -Sim, com certeza, porque a gente tem uma jornada de trabalho constante, dupla, tripla, e a gente vê uma questão do preconceito ainda com a idade, gêenero e se tem filhos ou nao. As mulheres deixam de ser contratadas porque elas vão ter filho e vão ter que faltar ao trabalho, os filhos vão ficar doentes e quem é que fica com os filhos doentes? O pai? Não, a gente vive em uma sociedade, em geral, em que se paga , sim, um preço. É so olhar os cargos de chefia das empresas e os salários naturalmente inferiores que a gente recebe.
TP - Quem lhe conhece um pouco e acompanha seu trabalho e sua vida pelas redes sociais sabe da história linda que envolve a chegada da Alice. Fale um pouco sobre essa conquista, sobre essa gestação que foi diferente, mas que não perde em nada quando se trata de amor e afeto.
AF - A chegada da Alice é a coisa mais maravilhosa que podia ter acontecido na minha vida, ela é um raio de sol da minha vida. Uma história maravilhosa, ela vai fazer um ano e dois meses na semana que vem, segue mamando no peito. A nossa história de adoção e amamentação foi um pouco atípica, mas muito maravilhosa. Amor e afeto eu tenho de sobra, então ser mãe não tema ver coma gestação. Na verdade, é uma gestação diferente, a gente brinca que ficou grávidos por dez anos, porque esperamos dez anos por um filho.
TP - Sentir-se mulher mudou depois da maternidade?
AF - Mudou muito, ainda mais que a gente adotou a Alice tinha seis horas de vida, a gente muda. Quem é mae sabe e a gente tem que conciliar, ser mulher e mãe. Agora que ela está se desenvolvendo mais, com um aninho, o lado mulher aflora de novo, mas é bem difícil conciliar tudo. Nesse primeiro ano do bebê, a gente é 99% mãe, e como eu disse antes, tem tudo isso de ter de se concentrar no profissional também. É uma matemática meio complicada.