COMPORTAMENTO INFANTIL: COMO ENSINAR AS CRIANÇAS A DIVIDIR

Pesquisa indica que o altruísmo é uma característica desenvolvida, não inata. A receita não é nova, mas precisa ser reforçada: os pais ainda são o melhor exemplo

 

O altruísmo, entendido como a inclinação a ajudar os outros, gera inúmeros debates entre o meio científico. Seria essa uma característica inata ou algo que desenvolvemos ao longo da vida? De acordo com uma pesquisa realizada na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, o mais provável é que a segunda opção esteja correta.

O estudo foi realizado com 34 bebês entre 1 e 2 anos de idade e refutou uma pesquisa anterior que defendia que mesmo crianças nessa idade já apresentavam características altruístas.

Os participantes foram divididos em dois grupos. No primeiro, um pesquisador sentava-se junto à criança e rolava uma bola para frente e para trás, interagindo com ela. Já no segundo, havia duas bolas, uma para o bebê e uma para o pesquisador que, propositalmente, deixava que ela escapasse, para observar se a criança teria a iniciativa de ajudá-lo. Os resultados do estudo demonstraram que as crianças do primeiro grupo, que brincavam com o pesquisador, tiveram probabilidade três vezes maior de ajudar do que as do segundo grupo, sugerindo que o altruísmo depende do estabelecimento de uma relação.

DESENVOLVENDO O ALTRUÍSMO

Se o altruísmo não é uma característica inerente ao ser humano, isso significa que ele pode ser desenvolvido com o tempo. Segundo a psicopedagoga Jurema Esteban, os pais exercem grande influência nesse processo. “Quando os pais dão bons exemplos de generosidade, vão, aos poucos, interiorizando nas crianças posturas e virtudes”, afirma Jurema, que dirige o o Colégio Evolve Berçário e Educação Infantil, de São Paulo (SP).

Por esse motivo, os pais devem buscar dar sempre bons exemplos, da mesma forma que devem evitar o incentivo a atitudes egoístas. “Quando, por exemplo, a criança traz um brinquedo quebrado de volta para casa, ela é cobrada por não cuidar das suas coisas. Numa próxima situação, a criança temerá que os amigos quebrem seu brinquedo”, explica a psicopedagoga. Para mostrar ao filho que o altruísmo é algo positivo, a psicóloga Cynthia Wood, da clínica Crescendo e Acontecendo, também de São Paulo (SP), sugere o incentivo ao compartilhamento dos brinquedos da criança, dizendo que o colega ficará contente em brincar com ele, ao passo que uma negativa significará deixá-lo triste. Livros que tratem do altruísmo também são indicados, e, acima de tudo, os pais devem adotar eles mesmos atitudes altruístas, como praticar doações. “Somos o exemplo e mostramos o quanto a pessoa que recebeu a caridade ficará feliz ao poder se alimentar, brincar, usar roupas e calçados novos”, diz Cynthia.

O que não é indicado, porém, é forçar a criança a adotar esse tipo de atitude. Segundo Luciana Barros de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABP), o ato de obrigar a criança a adotar essa postura faz com que ela não entenda o verdadeiro sentido da ação, associando a caridade a sentimentos negativos. “O que ficará marcado, nestes casos, será um sentimento ruim, de tristeza ou de ser contrariada”, ensina a especialista.