CLARABOIA E EDIFÍCIO MASTER: O DRAMA HUMANO EM COMUM

Livro de José Saramago e documentário de Eduardo Coutinho abordam histórias de moradores de edifícios que vivem as dores de serem humanos

Por Aline de Melo Pires - Jornalista

Lendo Claraboia (Companhia das Letras) acabei me dando conta de que a humanidade é mesmo um ciclo. Tudo se repete, a cada época de um modo, de um jeito. Mas o ser humano tem sido marcado, geração após geração pelas mesmas angústias, fraquezas, medos e também pelas mesmas alegrias e satisfações. Claraboia foi escrito pelo aclamado português Saramago no início da década de 1950, mas é mais atual do que nunca.

Percorrendo as estantes da Biblioteca Pública Machado de Assis, de Novo Hamburgo, me deparei com os títulos desse autor e o que mais me chamou a atenção na descrição da capa foi saber que encontraria, ali naquelas páginas, histórias humanas no sentido mais literal.

O cenário é um pequeno prédio de seis andares situado em uma rua de Lisboa. Nele, o autor relata histórias simultâneas que trazem personagens cheios de dramas como famílias e seus conflitos, juventude e suas dúvidas, maturidade e suas mágoas.

Gosto de ler textos com essas características, o lado imcompreensível, e por isso mesmo tão atraente do ser humano, me fascina. Por isso recomendo Saramago sempre.

Em Claraboia encontramos a história da sedutora Lídia, uma mulher sustentada pelo amante e que só assim consegue sustentar a sua mãe. Mas, a juventude de sua vizinha ameaça seu reinado junto ao homem que a banca em troca de beleza e luxúria. As irmãs Adriana e Isaura vivem, cada um com suas fantasias e frustrações, uma vivendo uma paixão que considera impossível e uma devoção imensa pela música clássica, enquanto a outra vive mergulhada - e atormentada - pelos romances que não cansa de ler.

O jovem Abel é um dos personagens mais cativantes, talvez pela brevidade de sua insatisfação com a vida. Tão novo, tão desesperançoso.

Quando escreveu Claraboia, Saramago teve sua obra “esquecida” na gaveta de uma editora e, anos mais tarde, quando o autor já era conhecido, surgiu a oportunidade de publicação desse romance. Mas, ele não o permitiu. Talvez magoado, disse que a publicação de Claraboia seria uma decisão de seus herdeiros, quando este viesse a falecer. José Saramago morreu em 2010 e Claraboia foi publicado no ano seguinte.

Este livro me fez lembrar um pouco o documentário do brasileiro, também já falecido, Eduardo Coutinho. Edifício Master, de 2002,  retrata as histórias de vários moradores do prédio que dá nome à obra e é um dos melhores trabalhos já realizados contando dramas reais. Lembro que na ocasião, entrei na Casa de Cultura Mário Quintana, em Porto Alegre, para passar o tempo, entre um compromisso e outro, e resolvi assistir ao documentário de Coutinho. Belo acaso. Acredito que histórias que trazem à tona o ser humano, ficção ou não, se colocam como espelhos diante de nós.

 

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