ARTIGO | A importância de um bom desenvolvimento na PRIMEIRA INFÂNCIA

Amar e demonstrar afeto, carinho, através dos gestos, palavras e ações é necessário. Você vai desenvolver na criança, dessa forma, uma boa autoestima

Por Elaides Scheffer *


O desenvolvimento infantil começa quando a criança está no útero da mãe, tanto o crescimento físico, a maturidade neurológica, a formação de habilidades cognitivas, afetivas e sociais como também o temperamento. A Personalidade acontece nessa fase (90%).


É na primeira infância (zero a seis anos) que a criança absorve tudo, como uma esponja absorve água. As mudanças ocorrem numa velocidade incomparável com qualquer outra época. Nem mesmo na adolescência ocorrerão mudanças com tamanha rapidez. Esse período se divide em três fases: a oral, a anal e a fálica.

Fase Oral (Do zero aos dois anos de idade, aproximadamente)

Essa é a fase em que os bebês encontram o maior prazer na boca e a usam para descobrir o mundo e as diversas experiências como o calor, o frio, o duro, o macio, a dor, as cócegas e, principalmente, o prazer de levar tudo à boca.

Principal cuidado: objetos muito pequenos podem engasgar ou grandes que podem se partir.

Atenção ao desmame! Esse processo deve ser gentil. O ideal é acontecer até dois anos de idade. A criança precisa satisfazer seu instinto principalmente através do mamar e, se isso não for possível, ofereça chupeta ou mordedores para evitar futuras neuroses.

Algumas atitudes são fundamentais como, por exemplo, a paciência, uma virtude necessária principalmente na fase oral, no momento de amamentar ou oferecer a mamadeira. Quem tem filhos precisa cultivar essa virtude, custe o que custar. A falta dessa vai gerar uma fixação oral nas fases seguintes e vida adulta. A pessoa poderá buscar de forma excessiva os prazeres de comer, beber, fumar e falar em demasia, além de demonstrar passividade, dependência e depressão.

Algumas pessoas ficam presas na fase oral na vida adulta quando esse período não é bem resolvido e isso pode gerar hábitos como mascar chiclete, comer tampinhas de caneta, falar demais, não saber escutar, ficar mascando o tempo, adquirir excesso de peso, compulsão alimentar ou até vícios.

Para Piaget, esse é o período sensório-motor. Nessa fase a criança tenta compreender o que acontece ao redor dela e a ter controle de suas habilidades motoras, aprende sobre si próprio mediante a interação sensitiva e motora como agarrar, sugar, atirar, bater, chutar e centralizar em si mesmas todas as ações.

Fase Anal (entre os dos dois e os quatro anos, aproximadamente)

Agora o prazer está no ânus. A criança tem o desejo de controlar os movimentos esfincterianos e começa também a entrar em conflito com a exigência social de adquirir hábitos de higiene. A partir dos três anos, passa a distinguir as diferenças entre pessoas do sexo masculino e feminino. Geralmente é em torno dessa idade que ocorre o desfralde.

É nesse período que os pais mais erram. Os adultos interferem, falando que quando ela faz cocô “é sujo e fedorento”. Essa é a aquela hora de dar “tchauzinho” para ele no vaso sanitário, para ir embora. Segundo alguns autores, o ato de reter as fezes e controlar os esfíncteres, representa o controle, a dominação normal, e na vida adulta significa o guardar, o poupar, saber cuidar das suas coisas. Se a criança não tiver um substituto para manipular, vai usar as próprias fezes e até comê-las. Ofereça massa de modelar ou argila para brincar. Uma fixação nessa fase pode causar conflitos para o resto da vida.

A criança é totalmente literal, ou seja, é uma época em que a criança já compreende o que lhe é dito e é muito importante que os pais e cuidadores saibam que ela não entende o abstrato, ironias, sarcasmos, frases de duplo sentido, que, sem cuidado, podem ser mal compreendidos, gerando angústia. Nessa faixa etária há um desenvolvimento gradual e acentuado da linguagem.

Fase fálica-edípica (De 3 a 5 anos)

Nessa fase, a área erógena fundamental do corpo é a zona genital. Freud sustenta que nessa fase o pênis é o órgão mais importante para o desenvolvimento, tanto dos homens, quanto das mulheres. A identificação de papéis com o genitor surge nesta época. Uma não resolução nessa fase pode ser considerada como a causa de grande parte das neuroses na vida adulta.

O local primário de tensão e gratificação são os genitais, e medo de lesão, ciúme e rivalidade com o genitor do mesmo sexo são os pontos marcantes. Mães: jamais falem mal do pai de seu filho. O mesmo vale para o papai.

O estágio pré-operacional de Piaget (entre 2 a 6 anos) é caracterizado por um desenvolvimento explosivo da linguagem, que leva à habilidade de raciocinar de forma simbólica em vez de motora, como no período sensório-motor. A capacidade de desenvolvimento da linguagem é determinada geneticamente e é reforçada com clareza pela comunicação dos pais que são sensíveis às habilidades emergentes da criança.

Amar e demonstrar afeto, carinho, através dos gestos, palavras e ações é necessário. Você vai desenvolver na criança, dessa forma, uma boa autoestima; faça com que ela se sinta capaz de aprender, dando-lhe o tempo que precisar.

Dê limites ao seu filho, pois isso também é amor: cuidados com suas roupas e pertences pessoais, limpeza e organização de seus brinquedos desde pequenos, faz com que possam já assumir pequenas responsabilidades.

Descarte palmadas, tapas, puxões de orelha ou qualquer outro ato agressivo para tentar conter uma birra. Diga como espera que ele aja, o que ele poderá fazer ou não. E fale das consequências para o seu mau comportamento.

Jamais ceda às manipulações, como choros, pedidos de ajuda e reclamação de possíveis desconfortos. Os nossos avós, quando diziam “é de pequeno que se torce o pepino”, ao se referirem à formação moral das crianças, não sabiam que esse dito popular podia se referir também à importância fundamental das ações e dos movimentos de diversas instâncias exercidos sobre esses pequenos, inclusive para a maturação e o desenvolvimento do seu organismo.

Dormir bem, ser aquecido no frio, ser protegido de estímulos muito fortes, poder se movimentar pelo espaço, ser mantido minimamente limpo e confortável, são experiências fundamentais para garantir o sucesso desse processo de desenvolvimento.

A alimentação é muito importante e é bem sabido que um bebê desnutrido pode ser prejudicado por toda a sua vida, tendo dificuldades de diversas ordens, inclusive de aprendizagem.

“Uma mãe suficientemente boa ,como descreve Winnicott, é um porto seguro”.

*Psicopedagoga, mãe, avó, professora aposentada e escritora do livro “Do colo para o voo: como conduzir a criança para uma vida independente e feliz”.