A INFÂNCIA NO DIVÃ: VEJA A IMPORTÂNCIA DA TERAPIA INFANTIL

Visitar um psicólogo é um importante recurso de autoconhecimento. E isso não precisar ser uma ferramenta a ser usada somente na vida adulta ou quando há um problema específico. As crianças podem, e devem, ser encaminhadas a esse processo como forma de exercitar suas vivências e estar preparadas para as experiências da vida.

Para aprofundar essa questão, conversamos com a psicóloga clínica Jucieli Oliveira Gomes. “Uma criança que sabe porque sentimos medo, que sabe identificar quando esta emoção aparece, controlá-la e ter um comportamento mais adequado com certeza será um adulto que irá saber lidar com a ansiedade, por exemplo, que é a emoção vinculada ao medo na vida adulta”, diz ela que também é psicóloga técnica da Editora e Livraria Sinopsys. Outro aspecto benéfico da terapia infantil, segundo Jucieli, é que neste processo desenvolve-se capacidades e potencialidades que vão nos trazer ganhos para a vida toda, como resiliência, empatia, gratidão, tolerância a frustração, saber dar limites aos outros, e tantas outras coisas que podemos não perceber, mas que fazer toda a diferença na vida adulta. Você pai, mãe, responsável, leia e releia a entrevista com muito carinho e peito aberto.

Temas Preferidos - Muitas pessoas acreditam que a terapia deve ser usada somente em situações extremas e mostram até certo preconceito. Isso pode ser ainda mais acentuado quando se trata de crianças. Mas, quando e como identificar a necessidade de terapia para uma criança?

Jucieli Gomes - Ir a terapia envolve muita resistência e há muitos mitos sobre o processo, alguns pais sentem receio de levar o filho à terapia, com medo de rotularem na escola como o aluno doente ou com problemas. Hoje em dia isso ainda existe, mas, as redes (escolas, famílias etc) têm se tornado mais flexíveis. A visão que eu busco mostrar aos pais e escolas é que o psicólogo auxilia a criança a lidar com as suas emoções, e emoções todas as pessoas no mundo têm, então, vai ao psicólogo quem tem emoções. Se soubéssemos lidar com nossa raiva, medos, tristezas, seríamos adultos mais saudáveis, mas, nossos pais não sabiam e logo não nos ensinaram isso de um modo assertivo. Minha recomendação é que todos os pais busquem, em algum momento, uma orientação de como auxiliar seu filho a desenvolver regulação emocional.

TP - Quais são os recursos ou ferramentas utilizadas na terapia infantil?

JG -Na terapia infantil utilizamos jogos terapêuticos, brinquedos, desenhos, conversa, técnicas terapêuticas, testagens psicológicas tarefas, filmes. Temos que ser muito criativos, na verdade, para poder entender a demanda de cada criança e encontrar recursos que façam sentido para ela, que ela goste e se sinta á vontade para falar e aprender sobre si e suas emoções.

TP - Como os pais podem obter confiança no profissional que vai cuidar de seu filho?

JG - É sempre bom pedir a indicação de alguém que já leve seu filho à terapia. Caso não tenha uma indicação, é importante tirar todas as dúvidas de como será o acompanhamento, buscar referências do profissional, geralmente os terapeutas são bem abertos a perguntas. Se algo não estiver indo bem, questione para que ele possa explicar ou até entender melhor se precisa mudar alguma técnica ou abordagem com seu filho.

 TP - E como a criança, enquanto paciente, pode adquirir confiança no terapeuta?

JG - Há diversas formas de conquistar a confiança da criança. Na verdade, a base para a evolução de um paciente é o vínculo, então isso vai sendo construído ao longo do processo de terapia.

TP -  O que fazer quando os pais identificam a necessidade de terapia para seus pequenos mas eles não aceitam?

JG - Os pais podem marcar um atendimento para eles mesmos, na verdade o primeiro atendimento é sempre com os pais, para que estes possam passar as demandas e o que têm percebido de problemas a serem melhorados. Após este primeiro atendimento o profissional saberá orientar de forma mais adequada, como conduzir o início da terapia com a criança. Mas, na terapia infantil os pais serão parceiros em muitos momentos, pois, geralmente existe a necessidade de que a família também mude alguns aspectos, para a evolução e mudança de comportamento da criança. A terapia da criança acaba num processo terapêutico para a família toda.