A CRIATIVIDADE QUE SALVA É A MESMA QUE ASSUSTA! COMO ASSIM?

A redenção de Raquel pautada pelo amor

Raquel só queria ser entendida! Quanto mais explicava menos a entendiam! Era a mágoa de sua vida! Sempre que queria compartilhar uma ideia ou usar sua criatividade, era cortada por seus colegas, seus pais e vizinhos.

Raquelzinha entendia que o mundo podia ser muito mais colorido, as pessoas mais amáveis e as dificuldades muito menores. Mas as velhas afirmações de que  ela era  muito nova, não havia vivido o suficiente e que tinha muito a aprender, não saiam de perto do seu cotidiano.

Para ela era muito difícil mostrar as suas intenções além de suas palavras, ficando mais fácil a rotular de "esquisita". Era uma incompreendida! Tinha uma sensibilidade acima da média e, no alto dos seus 13 anos, diferentemente de suas colegas, queria agregar ao mundo o que batia forte em seu coração: seus sentimentos de fraternidade e de amor.

Apesar das tentativas de todos ao seu redor de abafarem esse potencial, pois não era entendido, ela continuou fervorosamente com seu desejo. Mas a adolescência apareceu! Aquela mágoa começou a ter força, a incompreensão se tornou revolta e a situação se complicou.

Ela começou a aprontar na escola, em casa, com os amigos e se fechou para qualquer opinião externa, entendendo que era anormal. O período de sua adolescência reforçou a ideia que as pessoas tinham de Raquel: era problemática!

A multiplicidade de experiências com pessoas diferentes, experimentando todas as possibilidades foram a tônica de seu comportamento até os 18 anos. Quanto mais o tempo passava, mais ela se tornava impermeável as opiniões alheias e conselhos mais prudentes.

Próximo de completar 18 anos, conheceu um homem com 30 anos e se envolveu com ele de todas as maneiras possíveis. Viajavam para tudo quanto é lugar e, apesar da idade, ninguém sabia ao certo onde ela estava e nem com quem. Seus pais já estavam cansados e sabiam, no fundo no fundo, por pior que pudesse parecer, que Raquel sabia o que queria e que não havia conversa que amenizasse.

O pior aconteceu! Aquele homem era um cafajeste. Usou Raquel de todas as formas imagináveis e a deixou na rua da amargura. Nem o telefone atendia! Ela só sabia o primeiro nome dele. Não sabia onde ele morava, pois quando saíam de moto, ele a buscava em casa, quando lá estava.

Ela se sentiu a pior das mulheres do mundo. Toda aquela pompa interior e a imagem de mulher decidida e independente caiu por "água a baixo". Ao mesmo tempo que uma imensa dor tomava conta do seu peito, ela se sentia seca, sem cor e sem brilho. Nada mais fazia sentido e parece que o mundo tinha acabado. Nunca tinha se imaginado assim: fracassada, largada, usada.

Se trancou em seu quarto durante semanas e, apesar da insistência dos pais, nunca queria saber de conversa. O choro era permanente, a depressão foi se instalando e a vontade de viver se esvaindo.

Estava muito magra. Não comia direito, não queria saber de sol e de conversa. Em uma noite de muito sofrimento, sua mãe entrou no quarto e resolveu não falar nada. Colocou-a no colo, fez carinho em sua cabeça e ela dormiu. Finalmente!

A mãe ficou velando o sono de Raquel durante todas as noites e dias, pois nem conseguia trabalhar, pedindo dispensa do emprego. A vida da sua filha estava em primeiro lugar e seu chefe, pai de adolescentes também, deu a dispensa sem pestanejar.

Durante dois dias nenhuma palavra foi falada: somente carinho, afago e lágrimas. Raquel começou a ceder e disse a mãe:

- Me ajuda! Não sei mais o que fazer!

E a mãe, após tanto aprendizado disse:

- Desculpa filha! Sei que fomos muito exigentes com você!

- Não mãe! Eu também fui muito exigente com vocês, sem necessidade!

As duas se abraçaram como há muito tempo não acontecia. Se lembraram dos momentos de felicidade, das iniciativas, da criatividade, do carinho e do desejo incontido de Raquel em mudar o mundo com amor e fraternidade.

A mãe levou Raquel ao médico psiquiatra, ela foi tratada, fez psicoterapia e melhorou muito em um ano de tratamento. Seus pais resolveram se tratar também e aquela família se reencontrou depois de muitos desencontros.

Em um jantar de Natal Raquel aproveitou a oportunidade para fazer um pedido. Todos se olharam, mas aquiesceram, pois entenderam a necessidade de respeito entre todos. Raquel disse:

- Quem sabe depois da ceia vamos sair a rua procurando pessoas que estão em dificuldade e vamos levar comida, roupa, carinho e amor, nesse dia tão especial. Todos concordaram!

Saíram a rua a procurar necessitados quando, logo na esquina, encontraram uma mãe com um neném pequeno sentada no meio fio da rua. O neném chorava muito e a mãe, com os poucos trapos que tinha, tentava aquecer o menino naquela noite de frio incomum, a época.

A família conversou com ela, a colocou no carro e levaram os dois até o hospital mais próximo. Todos passaram a noite lá preocupados com o neném e com aquela mãe. Na madrugada, uma médica foi até a recepção e perguntou se alguém acompanhava aquelas duas almas perdidas na escuridão do mundo.

Raquel se levantou e foi ao encontro dela e contou a história. A médica disse:

- A notícia não é boa: a mãe do neném teve uma parada cardíaca e acaba de falecer. O menino está bem, só precisava se aquecer e receber soro. Estava dormindo.

As lágrimas tomaram conta do rosto de Raquel e, naquela altura, sua família chorava copiosamente. Aquele Natal era o mais importante das suas vidas! Raquel olhou para os pais, tios, e primos que lá estavam e disse:

-Vamos adotar essa criança!

Todos choraram e aceitaram prontamente e ideia de Raquel. Ela mesma! Aquela criativa que acabara de salvar uma vida com seu coração bom e carinhoso!

César Silva é Mentor de Negócios, Consultor, Professor, Palestrante e Escritor - CEO @cesarsilvasimplesmente – Nosso propósito é inspirar estratégias com criatividade, possibilitando a liderança com autonomia em rumos disruptivos, viabilizando caminhos exponenciais com confiança e amor!