SALA DA TEACHER DAIA | O PODER DAS PALAVRAS

Palavras com um tom afetivo e de apoio fizeram a autoconfiança e o bem estar dos estudantes aumentar, enquanto que um tom neutro ou agressivo de voz só faziam cair índices de autoestima, engajamento e outros

Por Daiana Souza*


Você já parou para pensar nas palavras que usa? No jeito que você diz o que diz? Ou já escutou algo que “não fez bem aos ouvidos”? Pois bem, comecei a pensar muito sobre isso depois de algumas experiências escolares recentes. Em sala de aula prestei muita atenção nas palavras usadas pela professora titular. E o que me chamava mais a minha atenção era o tom, muito agressivo. Meus ouvidos ardiam a cada tema de casa não feito por alguma criança, porque era sermão na hora, carregado de fúria: “Pega tua agenda agora e escreve um bilhete pra tua mãe, porque eu vou assinar!”.

A criança não conseguia nem se explicar depois, porque ficava arrasada com a reprimenda. Ou quando a criança ficava em dúvida após uma explicação dada pela professora, ela dizia que não havia entendido. Mas a devolutiva vinha em tom de indignação: “Então tu não estava prestando atenção quando expliquei!” ou “Eu já falei! Não vou explicar de novo!”.

Infelizmente não foram episódios esporádicos, mas sim a forma com que a professora se expressava diante da turma. Era um misto de autoritarismo com falta de paciência, não sei. Só sei que ouvir aquelas palavras diariamente começaram a quase me deixar doente. Via na carinha dos alunos um misto de tristeza e medo, pois não conseguiam ser simplesmente… crianças! Uma brincadeira, uma conversa, um misto de vozes empolgadas para falar sobre o desenho do momento ou sobre como foi o fim de semana… tudo isso era reprimido pelas palavras da professora: “Turma, não gostei dessa postura de vocês. Aliás, nenhum professor aqui gosta dessa postura. Vocês são a pior turma daqui, a mais bagunceira, a que não respeita…” e por aí vai o sermão da montanha. Nossa, que peso para essas crianças de apenas 9 anos! Não podiam errar, ter dúvidas, pedir por mais clareza e simplicidade nas palavras. Precisavam ser absolutamente responsáveis por tudo: por seus recados, suas agendas, sua falta de entendimento que é normal na infância. Estavam sendo exigidos demais para amadurecer rápido, pois o próximo ano escolar estaria (segundo a professora) logo ali e eles precisavam “estar preparados”.

Dar minha opinião sobre o quanto essas palavras da professora impactavam na aprendizagem dos alunos não adianta muito, por mais que eu visse o quanto era difícil para eles se engajarem nas atividades propostas depois de tanto sermão. Mas o que pesquisas científicas dizem adianta muito: um estudo publicado em 2022 no British Journal of Educational Psychology mostrou o impacto que o tom de voz dos professores provocava nos alunos e em como o clima da sala de aula era ditado por esse tom de voz e atitudes docentes.

Os pesquisadores da Universidade de Essex, Inglaterra, concluíram que o comportamento do professor determinava o engajamento dos alunos. Palavras com um tom afetivo e de apoio fizeram a autoconfiança e o bem estar dos estudantes aumentar, enquanto que um tom neutro ou agressivo de voz só faziam cair índices de autoestima, engajamento e outros. E já sabemos que o emocional do aluno influencia diretamente em seu processo de aprendizagem. Afinal, quem aprende mais e melhor? Quem gosta de estar na escola ou quem odeia? São perguntas simples, mas que exigem de nós, educadores, uma profunda reflexão. Se queremos que nossos alunos aprendam, precisamos repensar urgentemente na maneira como estamos nos comunicando com nossos alunos.

Precisamos cuidar de nossas palavras, como cuidamos de nossa saúde, de nossa casa, de nossos amores. Nessa minha breve experiência com essa turma bombardeada por palavras ruins, lembro que eu dei um abraço na criança triste por ter esquecido o tema de casa. Eu perguntei a ela sobre uma possível solução para evitar o esquecimento novamente, e disse: “Não fique triste, errar faz parte do aprender”. Acho que eu ajudei a melhorar um pouco o dia dela em sala de aula, pelo menos. A escola precisa ser um espaço de vivências de todo o tipo, até negativas. Mas as crianças não podem servir de válvula de escape para ouvir palavras agressivas ou desmotivadoras vindas de professores. Pelo contrário, estamos lá para motivá-las, para fazê-las acreditar que sim, é possível aprender. Esse é o nosso trabalho.

Fontes: https://www.edutopia.org/article/how-tone-of-voice...
https://bpspsychub.onlinelibrary.wiley.com/doi/epd...

*Publicitária e professora de inglês. Daiana Souza escreve quinzenalmente neste espaço. Tem alguma dúvida, comentário ou sugestão a respeito do tema? Utilize os espaços abaixo para comentários