POSSO SER QUEM EU QUERO SER?

A sua inquietude era tamanha que quando começava a pensar tinha que falar em voz alta. Era um resumo. Uma conclusão. Seria ela afirmando para ela mesma o que precisava fazer

Por César Silva*

 

Essa foi a frase que Laurinha escreveu no topo do seu diário. Sempre que trazia alguma inquietude ou pergunta, a sua mãe indicava que ela precisava se conhecer mais. Era como se ela nunca disponibilizasse a resposta. Andava sempre em ritmo de provocação!

- Por que minha mãe não responde a uma simples pergunta?

Essa indignação era resolvida com pequenas reflexões. Laura entendia que estar sempre em "descoberta", como sua mãe afirmava, necessitava de um caminho que fosse mais eficiente. Voltar sempre às mesmas questões não a deixava satisfeita.

- É como um cachorro que está sempre atrás do próprio rabo. Pensou falando.

A sua inquietude era tamanha que quando começava a pensar tinha que falar em voz alta. Era um resumo. Uma conclusão. Seria ela afirmando para ela mesma o que precisava fazer. Se não fosse através da sua voz não "entrava" em sua mente.

Além das leituras e dos conhecimentos que tinha curiosidade em procurar, ela percebeu que havia uma forma, um jeito, um caminho ou quem sabe um método que funcionava melhor.

Laurinha não se conformava com o simples saber. Queria saber mais e melhor. Usar o conhecimento. Fazer. Incorporar "de verdade" tudo que aprendia em qualquer lugar.

Naquela manhã, antes de ir para a escola, ela resolveu que era a hora de fazer diferente. É como se estivesse avaliando o resultado de seu estudo e comparando com a evolução dela mesma. Uma voz interna sempre lembrava as palavras de sua mãe:

- O que você quer ser Laura? Quem é a Laura?

Sua ansiedade maior era pesquisar na internet e não achar nada parecido com o que ela pensava de si mesma.

- Não tem ninguém igual. Poderia ter. Facilitaria minha pesquisa.

Laurinha "funcionava" melhor de manhã. À noite ela gostava de refletir e pesquisar. Mas era de manhã que sua mente estava mais ativa.

- Acho que isso faz parte de me conhecer. A hora que funciono melhor. Acho que é porque minha mente está vazia e descansada. Acho.

As vezes ela se sentia uma louca. Falando sozinha no quarto, pensando na sua vida e como poderia aprender mais. Já tinha pensado várias vezes que se encaixava na categoria dos loucos.

- Será que todo mundo faz isso? Gosto de ser meio doidinha, ela pensou, com aquele sorriso maroto no canto da boca.

Ao mesmo tempo, ela já tinha lido que escrever ajuda muito na expressão dos pensamentos e, da mesma forma, consolida o que aprendemos. É como uma revisão: um resumo. Colocar em prática e ver a reação a cada suspiro.

Ela também percebeu que quando falava em voz alta as suas conclusões de si mesma, se tornava muito mais fácil lembrar e fazer relações com outros assuntos. Até quando conversava com as colegas.

Ela não contava a ninguém que determinadas frases e análises eram provenientes desse "processo"!

Ela percebeu que vários de seus ídolos, como Einstein, Edison, Howking e tantos outros, tinham uma maneira própria, organizada, que os faziam funcionar melhor.

- Preciso aprimorar meu jeito de estudar a pensar. Eureka!

- Está aí um caminho que preciso seguir e avaliar. Vou analisar: de manhã penso melhor, de noite sou mais crítica, quando falo em voz alta sobre as conclusões que tive, aprendo mais. Quando escrevo alguma coisa, consigo traduzir o que penso mais facilmente.

- Preciso mapear meus pensamentos. Não Laurinha. Assim você vai ficar doida. Calma aí!

Sua voz interior era de um veterano na arte de pensar. Mas ela se considerava uma novata no mundo. Talvez em um mundo que não pensa ou não reflete sobre suas decisões mais simples, ela seja uma veterana mesmo.

- Minha mãe tem razão. Eu preciso me conhecer melhor. Se já é difícil conviver comigo, no mundo será mais ainda. Não tenho dificuldades com os outros, mas parece que estou atenta a tudo e pouco atenta a mim.

Começou escrever no diário quando sua mãe bate à porta:

- Laura. Hora de ir para a escola. Você ainda precisa tomar o café da manhã.

- Só um pouquinho mãe. Preciso escrever no meu diário.

- Resolveu fazer um diário?

- Finalmente mãe.

- Como assim, finalmente?

- Você já vem me provocando há tempo que preciso me conhecer. Descobri uma forma que me ajudar a acontecer.

- Mesmo filha? Que bom! Mas agora é hora de ir à escola. Você precisa ser mais produtiva com seus pensamentos. Temos horário.

- E se eu me esquecer das coisas que preciso escrever?

- Faz alguns tópicos e depois você escreve o que eles significam. Espero você na cozinha em 5 minutos.

- Eureka! Minha mãe me deu outra dica!!!

- Obrigado mãe!

- Por o que filha?

- Por me ensinar sempre!

- Que é isso filha. Você é que quer aprender sempre. Eu só estimulo!

- 5 minutos!

*César Silva é Escritor, Empreendedor e Mentor de Negócios. Autor do e-book Inspirando Rumos - Histórias