NÃO MUDAMOS AS PESSOAS

Desperdiçamos energia e o tempo que poderíamos estar convivendo e desfrutando bons momentos com quem amamos, tentando convencê-los de que estamos certos, que o nosso ponto de vista faz mais sentido

Por Lola Carvalho*

No último final de semana, participei de uma imersão em Santa Maria. Um treinamento vivencial chamado Leis da Vida, que tem como objetivo conduzir as pessoas, por meio de técnicas e vivências, a se reencontrar com seus sonhos, objetivos e reconhecer seu potencial diante dos inúmeros desafios da vida.

Foram três dias intensos, nos quais novecentas pessoas tiveram contato com sua luz e suas sombras. Acessaram memórias e gatilhos emocionais que prejudicavam sua forma de enxergar os problemas e as impediam de viver com mais plenitude. Ao longo destes dias, cada um no seu tempo e com a sua bagagem pessoal, pode se reencontrar consigo mesmo.

Eu fui disposta a encarar o que tivesse que encarar e me lancei, de corpo e alma, a realizar as vivências abrindo mão do racional, deixando tudo fluir, fosse como fosse.

Abracei dezenas de pessoas que nunca vi na vida. Falei de sonhos que nem mesmo a minha família sabe para estranhos. E da mesma forma, muitas pessoas dividiram comigo, uma desconhecida, seus medos, culpas e bloqueios.

Voltei com um caderno cheio de apontamentos importantes, insights e ferramentas concretas que podem me ajudar a conquistar todos os meus objetivos. Alguns destes objetivo, descobri lá, no último final de semana.

Mas de todos os ensinamentos que eu trouxe, um deles eu gostaria de dividir com você:

Não mudamos as pessoas. Amamos as pessoas.

Percebe o quão profunda e desafiadora é esta afirmação? Você já parou para pensar que passamos grande parte da nossa vida querendo mudar os outros? Primeiro, nossos pais. Passamos a vida toda discordando deles e dizendo para nós mesmos que, no momento oportuno, vamos fazer tudo diferente.

Depois, nossos amigos. Em outro momento, nossos chefes. Quando nos apaixonamos, não leva muito tempo, lá estamos nós, com todas as nossas certezas, querendo mudar nosso parceiro ou parceira. E por fim, queremos mudar nossos filhos, pois descobrimos que eles não são exatamente como gostaríamos. Tentamos modificar até pessoas que nem conhecemos direito, tamanha a nossa arrogância.

Desperdiçamos energia e o tempo que poderíamos estar convivendo e desfrutando bons momentos com quem amamos, tentando convencê-los de que estamos certos, que o nosso ponto de vista faz mais sentido.

Aceitar as pessoas como elas são, nos poupa de tanta dor. Quando nos desprendemos de nossas convicções e simplesmente, acolhemos o outro da forma como ele é, conseguimos olhar para tudo o que aquela pessoa tem de bom e valorizar muito mais a parte boa, do que o contrário. É como se enxergássemos com os olhos da alma.

Nunca sabemos ao certo, a dor que uma pessoa carrega. Todos nós, sem exceção, fomos moldados pelos nossos pais, pela escola, pelos amigos, pelas circunstâncias, pelas perdas, pelas decepções e até pelas nossas conquistas. Durante muito tempo de nossa vida, não decidimos absolutamente nada e até o que não escolhemos, moldou a nossa personalidade.

Percebi o quanto, ainda hoje, me coloco no lugar de mãe da minha própria mãe. Quero ensiná-la a viver a sua vida, esqueço do meu lugar de origem: o meu lugar de filha, afinal. E quando me dei conta disso, me dei conta de que é maravilhoso ocupar o lugar de filha. Sendo a filha, não preciso ter todas as respostas e posso até pedir um colo, quando precisar.

Aceitar que não mudamos as pessoas, apenas as amamos, nos libera para cuidarmos da nossa vida, a assumir a nossa total responsabilidade por ela e cuidar do que diz respeito estritamente a nós mesmos.

Mas o que é libertador para alguns, pode ser desafiador para outros. Pois, se não me ocupo mais com o outro, se aceito ele do jeito que é, terei que me ocupar comigo mesmo. Olhar para a minha vida, minhas virtudes e defeitos e talvez chegue a conclusão de que não sou tão bom e perfeito, quanto eu imaginava.

Então, como diz aquela música da Legião Urbana, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. Por que se você parar para pensar, na verdade, não há.”

A vida é apenas uma breve passagem. Não vale a pena perder tempo tentando ter razão. Hoje, estamos aqui, mas amanhã, quem sabe?

Então, te convido a fazer este exercício comigo. A não tentar mudar as pessoas e sim, amá-las do jeito que elas são, direcionando o foco para tudo o que elas têm de bom.

Você pode se surpreender, assim como me surpreendi.

Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo.

Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.

Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe.

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