MENOS PRESENTE. MAIS PRESENÇA

"...quando me dou conta, estou há vários minutos olhando o feed e nem sei mais o motivo que me levou até ali. Hoje em dia, perdemos muito tempo conectados com nada"

Por Lola Carvalho*

O último mês do ano nos encontrou. Como sempre, temos a impressão de que o ano passou rápido demais. Ou será que fomos nós que passamos rápido demais por ele? Naquela espécie de rodinha de hamster em que muitos de nós nos enfiamos, sem nos darmos conta.

Houve um tempo da minha vida em que estar parada me incomodava profundamente. Eu não lidava bem com o ócio. Não podia ver alguém atirado no sofá que já queria arrumar alguma atividade. Era como se a pessoa estivesse deixando de viver. Eu estava totalmente errada.

Hoje, tenho valorizado cada vez mais o não fazer nada. A liberdade de poder ficar em silêncio, acompanhada apenas dos sons do ambiente. De observar meus pensamentos, assimilar os insights que aparecem do nada e, principalmente, aprender a ouvir a minha intuição.

E tenho exercitado isso com meus filhos também. Você já parou para observar como é difícil para as crianças de hoje ficarem sem fazer nada? Eles simplesmente não conseguem.

Na era das telas, existe uma atividade constante. Luzes, sons, estímulos, uma invasão de todo o tipo de conteúdo. Muitas vezes, sem perceber, pego o celular para fazer alguma coisa importante, como ligar pra minha mãe, por exemplo, e quando me dou conta, estou há vários minutos olhando o feed e nem sei mais o motivo que me levou até ali. Hoje em dia, perdemos muito tempo conectados com nada.

E isto é preocupante. Estamos na era mais conectada de todas e ao mesmo tempo, nunca estivemos tão desconectados uns dos outros. Não é raro ver famílias inteiras dividindo a mesa, cada um com sua tela, envolvida com o seu mundo, sem dizer uma palavra. Se falando dentro de casa por whatsapp.

Sabemos que a tecnologia é um caminho sem volta, mas em nossa casa, tentamos minimizar o problema limitando o uso e incluindo em nossa rotina momentos de total conexão uns com os outros. Tudo muito analógico.

Todos sentamos a mesa para comer, ninguém faz nenhuma refeição no quarto ou em frente à tv e na grande maioria das vezes, desligamos tudo para poder conversar uns com os outros.

Não raro, vamos todos para a cozinha preparar uma refeição juntos e os cafés da manhã dos finais de semana são sempre especiais.

Outro momento que as crianças adoram é o da massagem coletiva. Cada um faz massagem no outro, tirando as tensões do dia, dando e recebendo carinho. Na hora de dormir, não abrimos mão de contar história e depois, cantar uma música. Tudo isso nos aproxima e diminui o contato com as telas, gerando outros interesses.

Nós adultos reclamamos de nossos filhos, mas passamos muito tempo colados no celular. A única diferença é que achamos que o que estamos vendo é mais relevante. Dar o exemplo é sempre mais efetivo.

Agora, com o Natal, temos a oportunidade de envolver toda a família nos preparativos para a grande noite. Convidar os pequenos para preparar as bolachas de Natal, pedir opinião sobre o cardápio da ceia e incluir toda a família na decoração da casa. Eu sou apaixonada por esta época do ano e acho esta data, um ótimo pretexto para nos aproximarmos uns dos outros e criar um clima de total cumplicidade.

Adoro receber a família em nossa casa, cuidar de todos os detalhes e retribuir todo o amor que recebi em tantos outros Natais ao longo da minha vida.

Todos em nossa casa já fizeram suas cartinhas para o Papai Noel e esperam ansiosos para receber o que pediram. Mas temos tentado ano após ano, fugir do consumismo exagerado, de se endividar para satisfazer algo efêmero, cuja empolgação não vai passar de alguns dias.

Mais do que presentes, nossos filhos precisam de presença. De pais que os escutem, que os ajudem em seus desafios a cada fase da vida. Precisam de pais que dediquem todos os dias um tempo de qualidade para brincar, estar junto, conhecer seus filhos, suas preferências, sonhos e medos.

Sua presença é o melhor presente neste Natal.

 

Lola Carvalho é publicitária, jornalista e mãe de dois. Sempre foi apaixonada pelas palavras e pela música. É gaúcha de São Sebastião do Caí, mas aos onze anos mudou-se para Novo Hamburgo.

Com o nascimento do primogênito, Francisco, em 2009, viveu a maior transformação da sua vida. A maternidade trouxe à tona sentimentos novos e singulares. Tudo isso foi sendo registrado em textos escritos pela publicitária que encontrou nas palavras uma forma de externar seus medos, frustrações, desafios e falar do amor que crescia dia após dia.

Com a chegada do Caetano, seu segundo filho, a maternidade se revelou em novas páginas, que foram reunidas em seu livro de estreia Mãe Sem Limite: um livro de crônicas que trata sobre as aventuras e desafios de ser mãe.

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