LETICIA WIERZCHOWSKI: "NÃO SEI VIVER SEM INVENTAR HISTÓRIAS"

A escritora gaúcha fala de seus projetos, rotina e paixões, em uma conversa onde abre seu coração e se revela uma mulher apaixonante a apaixonada

Ela é uma das gaúchas que mais disseminam a cultura e a força de nosso Estado. É uma mulher de sucesso, mãe, esposa e de uma mente criativa brilhante. Leticia Wierzchowski é movida pela paixão pelas letras, pela força da criação que resulta em belíssimos trabalhos como O Anjo e o Resto de Nós e o sucesso indiscutível que foi A Casa das Sete Mulheres – adaptado para a televisão. Nesta entrevista exclusiva, a escritora fala de suas paixões, sua rotina e de novos projetos – no ano que vem deve lançar o romance Navegue a Lágrima. Confira abaixo os principais trechos da conversa com a escritora que atualmente se divide entre Porto Alegre e o Rio de Janeiro.

Você é um exemplo de mulher que foi à luta em busca de um sonho e o realizou. E deu certo. Fale sobre isso e sobre o que significa lutar por um sonho.

Na verdade, quando eu finalmente descobri que queria escrever romances, foi uma coisa avassaladora, uma certeza muito aguda - era como se eu não tivesse outra coisa a fazer, outra alternativa a não ser correr atrás dessa realização, dessa voz que saía de mim. Então fui atrás mesmo, com perseverança e um certo desespero. Deu certo. Eu lutei por mim mesma, porque era muito forte em mim a voz que me trazia aqueles personagens, era muito autêntico em mim. Assim, nunca desisti. E as portas foram se abrindo, e novas coisas - inesperadas até - surgiram detrás dessas portas.

Como você poderia explicar sua trajetória na literatura a partir de dois marcos, O Anjo e O Resto de Nós, e A Casa das Sete Mulheres? Podemos dizer que são divisores de água em sua carreira?

Bem, o Anjo foi meu primeiro livro - ele não dividiu a minha carreira, mas a minha vida. Foi difícil publicá-lo, uma jovem autora inédita, sem parentes importantes (e vinda do interior... hehe). O Sul (que eu amo) fica longe do centro. Eu comecei no sul, mas logo vi que precisava de uma editora no centro, pra distribuir do meio para todo o País. E a Record comprou os direitos de A casa das sete mulheres porque a editora (Luciana Villas-Boas) farejou uma história boa - eu nem imaginava, na época, que alguém quisesse publicar uma história do século XIX sobre sete mulheres trancadas por dez anos numa casa. E muita coisa aconteceu. Esse livro abriu muitas portas para mim, mas a que eu mais valorizo foi a porta para as publicações estrangeiras - foi meu primeiro romance editado fora do Brasil. Aprendi muita coisa, inclusive a lidar com elogios e críticas virulentas.

Fica claro que, para você, escrever e criar vão muito mais além da realização profissional e remuneração. Como se dá este processo de criação, de formatação de histórias e personagens? É algo constante na sua rotina?

Ninguém escreve pra ganhar dinheiro a priori. Pode-se ganhar dinheiro escrevendo, claro, mas não é um caminho muito garantido... Eu escrevo porque não sei viver sem inventar histórias, porque sou mais feliz com um livro em andamento, porque abre meus horizontes. Mas é um trabalho como qualquer outro: exige dedicação, horas diárias e solidão. Não poderia explicar aqui, em algumas linhas, como acontece o meu processo de criação. Mas digamos que prefiro que a inspiração me encontre à minha mesa.

E como concilia isso tudo com sua rotina pessoal, de mãe, esposa, de ter de cuidar das coisas da casa?

Como todas as mulheres deste mundo.

Você trabalha em casa?

Trabalho em casa sim. Tem alguns defeitos, mas as vantagens batem de longe os pequenos inconvenientes.

Falando um pouco sobre maternidade, como você procura passar os valores nos quais acredita para seus filhos? Que idade eles têm?

Tenho dois filhos, João, 13 anos, e Tobias, 6. Como eu procuro passar valores? Dando o exemplo. Não existe outra maneira de educar um ser humano, a não ser dando o exemplo. Você pode educar pelo mau exemplo também, mas aí é mais arriscado...

Como eles percebem seu trabalho?

É super natural pra eles. Nunca tiveram uma mãe contadora, ou advogada. A mãe é escritora, eles já nasceram sob essa condição - vivem numa casa de livros, e gostam disso. Quando João era pequeno, durante algum tempo, ele olhava todas as orelhas de livros pra ver se a foto era minha...

Hoje você vive no Rio de Janeiro, não é? E recentemente esteve em Porto Alegre para ministrar oficina literária. Como é sua rotina em termos de viagem hoje?

Eu vim pra ficar um tempo no Rio, e o plano é voltar pro sul - num esquema de duas casas, por causa do trabalho do meu marido. Esse foi um ano de viagens pra mim, mas eu sempre viajei, porque minhas editoras sempre foram cariocas, e viajo pra dar palestras - como todo escritor, palestras são parte do meu trabalho e do meu dinheiro. Mas é fácil, sempre contei com o meu marido, e as avós, minhas irmãs. Família se ajuda.

Sobre as oficinas, o que significa para você ensinar, estimular os outros a escreverem?

Isso é uma coisa recente na minha vida. Sei falar do meu modus operandi, sou bem colocada e falante, mas não sabia se tinha didática o suficiente para ensinar, para transmitir alguma coisa de concreto num trabalho tão vago, tão subjetivo. Mas os cursos que dei foram ótimos - os alunos gostaram muito, principalmente quando falo de literatura -, e isso é uma coisa que continuarei fazendo.

Como é o trabalho de “extrair”talentos na literatura?

Bem, eu acredito no talento, e acredito que o talento, quando se une a determinadas ferramentas, e a uma boa dose de determinação, ele frutifica. Eu ajudo a clarear ideias, a mostrar caminhos, possibilidades - a ter um olhar analítico sobre o trabalho alheio, que te ensina a aprender como leitor, e depois esse conhecimento, de forma orgânica, ajuda no trabalho da escrita. Fórmula não existe.

Em que projeto você trabalha atualmente e o que seus leitores podem esperar de um novo trabalho?

Vou lançar um romance ano que vem pela editora Intrínseca. O título, provisório ou não - ainda não sei -, é Navegue a lágrima.

Como você cuida da saúde e da beleza?

Eu nado todos os dias. Ajuda na saúde física e mental, e mantém uma boa silhueta. Meu trabalho é parado, horas numa cadeira, exercícios são fundamentais. Adoro exercícios. De resto, sou fã de consultas mensais à dermatologista e de bons cremes (até porque, nadando ao ar livre, pego bastante sol). Não faço muito mais do que isso.

Como define seu estilo?

Sou uma mulher que gosta de livros, quadros, tapetes e pão caseiro. E de uma praia não muito cheia. Sou distraída com a moda, mas não faço feio. Não sei qual é o meu estilo, talvez ele seja vários - depende da época.

Que item de beleza não abre mão?

Um bom creme pro rosto e uma base com filtro solar.

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